Ageflor – Associação Gaúcha de Empresas Florestais

CMPC e Governo do RS lançam Projeto Reflora para reintroduzir mais de 6 mil mudas nativas e recuperar vegetação após enchentes de 2024

Estado estabeleceu parcerias para acelerar processo que beneficiará o meio ambiente Crédito: Vitor Rosa/Secom

Em cerimônia realizada nesta sexta-feira (28), no Palácio Piratini, em Porto Alegre, a CMPC e o Governo do Estado do Rio Grande do Sul lançaram oficialmente o Projeto Reflora. A iniciativa, que será desenvolvida pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) e pela Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), tem por objetivo realizar o resgate do DNA de árvores em risco ou que sofreram danos severos devido às enchentes que assolaram o RS em 2024, e fazer o replantio no mesmo local com clones genéticos do indivíduo principal. Ao todo, serão investidos mais de R$ 7,5 milhões. Pelo lado do Governo, participam da iniciativa iniciativa as secretarias da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi) e do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema). O vice-presidente da Ageflor, Lucas Pasetto, esteve presente na solenidade de apresentação do projeto, juntamente do diretor-executivo Jorge Heineck.

“A sociedade gaúcha precisa reforçar um compromisso coletivo com a preservação ambiental. O projeto vai nos ajudar a resgatar o DNA da nossa flora nativa. É um pacto que firmamos com as futuras gerações de gaúchos”, destacou o governador Eduardo Leite. “A importância da preservação da riqueza ambiental precisa ser compreendida por todos. A parceria entre governo, empresas e academia demonstra que a responsabilidade com o meio ambiente é da sociedade em geral e transcende mandatos ou gestões.”

O Projeto Reflora tem duração prevista de 3 anos, com início programado para junho de 2025. Os principais passos são: coleta de DNA em campo para as mudas, enxertia, florescimento das mudas e plantio nas principais regiões atingidas pelas enchentes. As mudas vão levar entre cinco e oito anos para florescer após o plantio. O tempo normal é de 20 a 30 anos, mas a tecnologia da UFV aplicada no projeto irá acelerar o processo.

A projeção é que ao longo do período sejam plantadas 6 mil mudas de 30 espécies nativas do Rio Grande do Sul, dos biomas Pampa e Mata Atlântica, em regiões severamente atingidas pelos efeitos das enchentes ocorridas em solo gaúcho. Elas serão produzidas no Centro Estadual de Diagnóstico e Pesquisa Florestal (Ceflor), de Santa Maria, que pertence à Seapi; no Jardim Botânico de Porto Alegre, gerido pela Sema; e em viveiros e hortos da CMPC. O processo será realizado ainda em outros viveiros de instituições parceiras do projeto. As primeiras cidades em que o processo será realizado são: Guaíba, Barra do Ribeiro, Tapes, Rio Pardo, Butiá, Eldorado do Sul e Santa Maria.

O processo que será aplicado no RS é exatamente o mesmo que foi desenvolvido para o reflorestamento de Brumadinho (MG) após o rompimento de uma barragem, ocorrido em 2019. A ação inicia com a identificação de árvores com danos na base do tronco e a coleta de DNA em campo com o resgate de propágulos, ou seja, partes de organismos que possam originar o processo de reflorestamento.

Na etapa seguinte, o material é armazenado, plantado em um pomar indoor e submetido ao processo de enxertia, que nada mais é do que a conexão de duas plantas diferentes para que cresçam de forma única. Na sequência, é realizado o plantio em campo e o posterior florescimento, que graças a adoção da técnica ocorre entre 6 meses e um ano. Como resultado, são geradas sementes com alta variabilidade genética e prontas para o plantio nos locais onde ficavam as antigas árvores.

“Essa é uma iniciativa fundamental e uma oportunidade para reflorestarmos de forma mais rápida e efetiva as regiões atingidas no ano passado. O projeto também dá a oportunidade de implementarmos melhorias em nosso processo produtivo e genético aplicado nos hortos florestais da companhia para diversificação de espécies nativas e já adaptadas com as condições de cada região”, afirma Antonio Lacerda, diretor-geral de Celulose da CMPC no Brasil. “Essa é uma iniciativa que foi desenvolvida na reconstrução de uma região de mata nativa que foi totalmente devastada e obteve enorme sucesso. Por isso, entendemos que ao replicar aqui no Rio Grande do Sul, utilizando as vantagens do nosso solo, traremos um ganho importante para a biodiversidade e restauração dos ecossistemas gaúchos”, completa.

O investimento é de R$ 7,5 milhões, sendo R$ 2,86 milhões da CMPC, R$ 2,34 milhões da Embrapii e R$ 2,30 milhões de contrapartida econômica da UFV. Os recursos serão aplicados no custeio de estruturas físicas (como casas de vegetação e estruturas de fertirrigação), serviços terceirizados de coleta de propágulos vegetativos (estruturas que se desprendem de uma planta adulta e dão origem a uma nova planta), compra de insumos e bolsas de pesquisa.

 “A determinação do governador, dentro das iniciativas do Plano Rio Grande, era achar soluções, com tecnologia e inovação, para que pudéssemos acelerar o processo de recuperação. Teremos a chance de deixar no Rio Grande do Sul uma marca de genética e de tecnologia que acelera a floração de mudas nativas para recuperar o ecossistema de todas as regiões que foram afetadas. É um projeto audacioso, e vamos buscar cada vez mais parceiros”, ressaltou o titular da Seapi, Clair Kuhn.

“No Estado, temos 50 viveiros que produzem essas mudas, entre eles o Jardim Botânico, que estará inserido nesse grande projeto. Como engenheira florestal, parabenizo todos os envolvidos por essa iniciativa”, ressaltou a titular da Sema, Marjorie Kauffmann.

Além da produção e do plantio de mudas, entre os objetivos do projeto estão a transferência de tecnologia da UFV para instituições de ensino públicas e privadas do Rio Grande do Sul interessadas em recuperação ambiental, a formação de pomares de sementes de mudas visando aumentar a oferta de sementes em quantidade e qualidade e a produção de um manual técnico sobre resgate de DNA e indução de florescimento em espécies nativas.

Sobre a tecnologia

A tecnologia desenvolvida pela UFV prevê o resgate de ramos de árvores saudáveis e a enxertia, com o florescimento precoce de novas mudas. No primeiro ano, será realizada a identificação das árvores danificadas, o mapeamento da localização das espécies e a produção de porta-enxertos. No segundo, ocorrerá a coleta do material genético e o início do processo de enxertia e de desenvolvimento de mudas. Por fim, no terceiro ano será realizado o plantio das mudas.

O reitor da UFV, Demetrius da Silva, explicou que a tecnologia é patenteada pela universidade, mas que o núcleo de inovação tecnológica renunciou à patente durante todo o período de realização do projeto em prol do Rio Grande do Sul. “A parceria iniciou-se por mérito do governo do Estado, e não tenho dúvida de que, com o Reflora, o Rio Grande do Sul consolidará sua posição de destaque em nível nacional. Estamos dispostos a atuar em parceria no que for necessário”, frisou.

A tecnologia tem sido empregada na recuperação ambiental de áreas atingidas pelo rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, em Minas Gerais. Outro local em que a técnica de resgate de DNA está sendo usada é na área da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, onde houve muita perda florestal.

Expertise em recuperação de biomas

A CMPC já é referência em regeneração de áreas degradadas, sendo uma das primeiras empresas que realizou, em larga escala, a clonagem de espécies nativas no Rio Grande do Sul. A empresa administra mais de 200 mil hectares de vegetação nativa no estado, onde quase metade precisa de intervenção para a melhoria de suas condições ambientais.

Para restaurar áreas degradadas e regenerar biomas, a companhia realiza a colheita de mudas nativas nascidas nos sub-bosques das suas áreas de plantios produtivos de eucalipto. Após um período de manejo, as mudas e espécies adaptadas às condições locais são reinseridas nas localidades a serem restauradas. Todo este processo se baseia no potencial de autoregeneração da natureza. Quando retiradas do meio ambiente, as mudas são catalogadas e tratadas até estarem prontas para o plantio. Essa atividade ocorre no município de Barra do Ribeiro, onde está localizado o viveiro da CMPC. Esse processo garante a qualidade das florestas nativas e produtivas da empresa. Atualmente, cerca de 80% do total de mudas plantadas pela CMPC em regiões a serem restauradas são fruto desta ação.

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