Ageflor – Associação Gaúcha de Empresas Florestais

CNA divulga análise sobre impacto das tarifas anunciadas pelo EUA para o agro brasileiro; CNI e Fiergs também se manifestam

Foto: Carolina Rossato

A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) divulgou uma análise das medidas tarifárias anunciadas na quarta (2) pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e os impactos para o agro brasileiro. Veja a íntegra da nota técnica .

A decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de implementar o que considera tarifas comerciais recíprocas a outros países sobre impostos de importação, afetará as exportações do Brasil. Mas ainda é difícil dimensionar em que medida impactará na indústria gaúcha, avalia o presidente da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (FIERGS), Claudio Bier. “As informações ainda são muito iniciais, estamos procurando medir as consequências, mas é certo que este novo cenário nos obriga a superar os desafios e explorar as oportunidades que surgem, como do Mercosul com a União Europeia ou da ampliação da parceria com a China”, diz Bier. Os produtos brasileiros serão taxados em pelo menos 10%.

As consequências da taxação de Trump chegarão ao Brasil, pois os Estados Unidos são o segundo parceiro comercial do país. “Há preocupação no caso de possível retaliação do Brasil e a configuração de uma guerra comercial, trazendo resultados ruins para todo o mundo, com redução do fluxo de comércio, menos negócios e tudo de ruim que ambientes de conflito trazem”, enfatiza Bier. Ele lembrou que, na semana passada, as Federações das Indústrias do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná já solicitaram ao governo federal uma atenção especial nas negociações sobre as taxas impostas pelos Estados Unidos para produtos de base florestal. Agora, a preocupação se amplia com o aumento de sobretaxas a outros setores.

Para o presidente da FIERGS, um dos efeitos imediatos da decisão de Trump para o Brasil e o Rio Grande do Sul pode ser a redução no volume de exportações para os EUA, especialmente em setores integrados à indústria norte-americana. Atualmente, já há tarifas de 25% aplicadas a todas as importações de aço e alumínio, por exemplo, embora os efeitos diretos a indústria gaúcha sejam pouco expressivos. Mas, a elevação de custos para os consumidores americanos por conta das tarifas, pode dificultar cortes de juros nos Estados Unidos e encarecer insumos para a indústria brasileira, especialmente no Rio Grande do Sul. “O Brasil deve seguir pautado pelo diálogo, avaliando cada caso de forma pontual e buscando preservar uma postura negociadora com relação aos Estados Unidos”, conclui Claudio Bier.

O anúncio de tarifas adicionais de 10% sobre os produtos brasileiros, impostas pelo governo dos Estados Unidos, foi recebido com preocupação e cautela pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Segundo a instituição, é preciso fazer uma análise detalhada das medidas divulgadas hoje pelo presidente norte-americano, Donald Trump, e insistir no diálogo para preservar uma relação bilateral histórica e complementar entre o Brasil e os EUA.  

“Claro que nos preocupamos com qualquer medida que dificulte a entrada dos nossos produtos em um mercado tão importante quanto os EUA, o principal para as exportações da indústria brasileira. No entanto, precisamos fazer uma análise completa do ato. É preciso insistir e intensificar o diálogo para encontrar saídas que reduzam os eventuais impactos das medidas”, avalia Ricardo Alban, presidente da CNI.

A tarifa adicional de 10% anunciada pelos EUA afetará todos os países e entrará em vigor no dia 5 de abril. Foram anunciadas também tarifas mais altas para países com os maiores déficits comerciais com os EUA, como China (34%), União Europeia (20%) e Japão (24%), a partir de 9 de abril.

No caso de aço, alumínio, e veículos e autopeças, prevalecerá a tarifa de 25%, anunciada recentemente.

Estados Unidos são principal destino de exportações da indústria de transformação brasileira

Os Estados Unidos são o principal destino das exportações brasileiras da indústria de transformação, especialmente de produtos de maior intensidade tecnológica, além de liderarem o comércio de serviços e os investimentos bilaterais. Somente em 2024, a indústria de transformação brasileira exportou US$ 31,6 bilhões em produtos para os EUA. Nesse ano, a cada R$ 1 bilhão exportado para os EUA, foram criados 24,3 mil empregos, R$ 531,8 milhões em massa salarial e R$ 3,6 bilhões em produção.

Um levantamento da CNI destaca os produtos mais exportados pelo Brasil aos Estados Unidos. De 20 itens analisados, em 13, os EUA são os principais compradores do produto brasileiro.

Confira os principais produtos exportados aos EUA e a participação na exportação total:

  1. Óleos brutos de petróleo ou de minerais betuminosos – os EUA são destino de 11,5% das exportações do produto;
  2. Outros produtos semimanufaturados, de ferro ou aços, não ligados, contendo em peso < 0,25% de carbono, de seção transversal retangulares – os EUA lideram como destino de 74,5% das exportações desse produto; 
  3. Ferro fundido bruto não ligado, contendo, em peso <= 0,5% de fósforo – os EUA lideram como destino de 71% das exportações do produto; 
  4. Café não torrado, não descafeinado – os EUA são destino de 18% das exportações do produto; 
  5. Aviões e outros veículos aéreos, de peso > 15.000 kg, vazios – os EUA lideram como destino de 54,5% das exportações do produto; 
  6. Pasta química de madeira de não conífera, à soda ou sulfato, semibranqueada ou branqueada – os EUA são destino de 14,7% das exportações do produto; 
  7. Produtos semimanufaturados, de outras ligas de aços – os EUA lideram como destino de 94,9% das exportações do produto; 
  8. Outros óleos de petróleo ou de minerais betuminosos e preparações, exceto desperdícios – os EUA são destino de 7,1% das exportações do produto; 
  9. Aviões e outros veículos aéreos, de peso > 2.000 kg e <= 15.000 kg, vazios – os EUA lideram como destino de 97,4% das exportações do produto; 
  10. Bulldozers e angledozers, de lagartas, autopropulsores – os EUA lideram como destino de 58,7% das exportações do produto; 
  11. Carregadoras e pás carregadoras, de carregamento frontal, autopropulsores – os EUA lideram como destino de 57,3% das exportações do produto; 
  12. Carnes de bovino, desossadas, congeladas – os EUA são destino de 4,6% das exportações do produto; 
  13. Madeira de coníferas, perfilada – os EUA lideram como destino de 98% das exportações do produto; 
  14. Óleos leves e preparações – os EUA lideram como destino de 46,7% das exportações do produto; 
  15. Preparações alimentícias e conservas, de bovinos – os EUA lideram como destino de 59,7% das exportações do produto; 
  16. Minérios de ferro aglomerados e seus concentrados – os EUA são destino de 12,8% das exportações do produto; 
  17. Óxidos de alumínio, exceto corindo artificial – os EUA são destino de 13,8% das exportações do produto; 
  18. Sucos de laranja não congelados, não fermentados, com valor Brix <= 20 – os EUA lideram como destino de 54% das exportações do produto; 
  19. Outras partes para motores diesel ou semidiesel – os EUA lideram como destino de 30,8% das exportações do produto; 
  20. Niveladores – os EUA lideram como destino de 45,3% das exportações do produto.

CNI lidera missão aos EUA em maio

Com objetivo de estreitar laços e buscar soluções de interesse comum com os EUA, a CNI levará um grupo de empresários brasileiros ao país na primeira quinzena de maio. A expectativa é que a comitiva se reúna com representantes da indústria e do governo norte-americano para discutir agendas de facilitação de comércio e abertura de mercados de forma equilibrada.

“Reiteramos a disposição da indústria de contribuir com as negociações com os parceiros americanos. A missão empresarial estratégica para os EUA tem justamente o objetivo de aprofundar o relacionamento e discutir caminhos para fortalecer a cooperação e o comércio entre o Brasil e os Estados Unidos”, explica Ricardo Alban.

Raio-x das relações econômicas Brasil-Estados Unidos 

  • Tarifa de importação real aplicada pelo Brasil aos EUA: a tarifa média efetivamente aplicada aos produtos dos EUA exportados para o Brasil foi de apenas 2,7% em 2023, um percentual significativamente inferior à média da tarifa nominal brasileira, que é de 11,2%, conforme consolidado da OMC.
  • Superávit no comércio de bens: na última década, os Estados Unidos nunca registraram um déficit comercial com o Brasil. O superávit acumulado no comércio de bens a favor dos EUA nos últimos dez anos alcançou US$ 91,6 bilhões;
  • O Brasil se destaca como um dos poucos países entre as principais economias com os quais os EUA mantêm um superávit persistente no comércio de bens, contrastando com o déficit geral que o país norte-americano registra no comércio de bens com outros parceiros comerciais.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *