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Lideranças do agro homenageiam Embrapa e seus pioneiros

O Conselho Superior do Agronegócio (Cosag), da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), realizou na manhã de segunda-feira (5), na sede da entidade, uma homenagem histórica à Embrapa e a três de seus pioneiros: Eliseu Alves, Luiz Fernando Cirne Lima e José Pastore. A cerimônia reuniu lideranças das principais entidades do agro brasileiro para reconhecer o legado visionário desses nomes na criação de uma agricultura tropical moderna, sustentável e baseada em ciência. A condução do evento, realizado ao mesmo tempo, em São Paulo e Brasília, ficou a cargo de José Luiz Tejon Megido, professor, escritor e referência nacional em marketing do agronegócio.

Cirne Lima e José Pastore participaram diretamente da Fiesp, enquanto Eliseu Alves recebeu a homenagem em sua casa, em Brasília, junto a familiares, amigos e ex-colegas de trabalho. Junto dele estavam os ex-presidentes Celso Moretti e Sebastião Barbosa, os diretores Alderi Araújo (Governança e Informação) e Selma Beltrão (Administração), o ex-diretor Cleber Soares, hoje secretário-executivo adjunto do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), além de vários empregados e ex-empregados da Embrapa. Em São Paulo, participaram, entre outros, Josué Christiano Gomes da Silva, presidente da Fiesp; Jacyr Costa, presidente do Cosag, além da presidente da Embrapa, Silvia Massruhá, do ex-presidente Silvio Crestana e do ex-ministro Roberto Rodrigues.

Trajetória e futuro

Na abertura da reunião, Silvia Massruhá apresentou um panorama da trajetória da Instituição, reafirmando seu papel central no desenvolvimento da agricultura tropical brasileira e na promoção da sustentabilidade. Ela destacou que o sucesso do setor agropecuário no Brasil está ancorado em três pilares: ciência e tecnologia, políticas públicas e capacitação de pessoas. Lembrou que, em menos de 50 anos, o País passou de importador de alimentos para um dos maiores produtores globais, com base em conhecimento científico adaptado às condições tropicais. “Essa transformação, sem paralelo no mundo, só foi possível porque o Brasil investiu em uma agricultura baseada em ciência”, afirmou.

A presidente também projetou o futuro da Embrapa, enfatizando a atuação em áreas estratégicas como bioeconomia, agricultura digital, inteligência artificial e mitigação das mudanças climáticas. Apresentou dados que reforçam a relevância institucional da Embrapa: mais de 7 mil empregados, dos quais mais de 2 mil são pesquisadores, 43 centros de pesquisa e um retorno social de R$ 21,23 para cada real investido. Silvia encerrou com uma visão otimista, mas comprometida com os desafios do amanhã: “A Embrapa não descansa sobre suas vitórias do passado. Continuamos semeando o futuro do Brasil e do mundo”. Sua apresentação reforçou que o conhecimento é a base da soberania agroalimentar e da liderança brasileira no cenário global.

Representantes do agro destacam papel da Embrapa

A fala de representantes de entidades setoriais foi marcada por reconhecimento, gratidão e defesa da Embrapa como patrimônio estratégico nacional. Bruno Barcelos Lucchi, pela Confederação Nacional da Agricultura (CNA), afirmou que a Embrapa não apenas criou uma estrutura científica, mas forjou um modelo único de agricultura tropical. “É uma das duas instituições brasileiras, ao lado da Embraer, que se tornaram referências globais em ciência aplicada.” Já o presidente da Organização das Cooperativas do Brasil (OCB), Márcio Lopes de Freitas, dirigiu-se aos homenageados como heróis nacionais.

Luiz Carlos Corrêa Carvalho, presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), reforçou o impacto da Embrapa no desempenho do agronegócio nacional e no protagonismo internacional do Brasil. Citou a produtividade como o maior legado: “Crescemos três vezes mais em produtividade total de fatores do que a média global, e isso é resultado direto da ciência tropical brasileira.” Geraldo Borges, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Abraleite), falou dos avanços da cadeia do leite com apoio da Embrapa, como o melhoramento genético, a criação da raça Girolando e os programas voltados a pequenos produtores. “A Embrapa é orgulho nacional e tem papel decisivo no futuro da produção de leite no Brasil.”

Roberto Betancourt, representando o Instituto Pensar Agropecuária (IPA), definiu a Embrapa como uma das melhores sementes que o Brasil já plantou, com impacto além de suas fronteiras. “Ela é peça-chave na segurança alimentar global, especialmente para o cinturão tropical e o continente africano.” Já Pedro Lupion, deputado federal (PP-PR) e presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), reforçou a necessidade de garantir autonomia à Embrapa, destacando seu papel técnico e estratégico para o Brasil. A fala do parlamentar reafirmou o compromisso do Legislativo com o fortalecimento da Instituição.

Reconhecimento e emoção

Durante a entrega das homenagens, a presença de personalidades como Roberto Rodrigues, Silvio Crestana e Josué Gomes reforçou o simbolismo do momento. A memória de Alysson Paolinelli também foi lembrada como figura decisiva na consolidação da Embrapa.

Ao entregar a homenagem a Eliseu Alves, Elisio Contini destacou o papel fundamental que ele teve na construção da Embrapa e do agro brasileiro. Ao apresentar o troféu esculpido em metal, o pesquisador aposentado leu a inscrição gravada: “Plantador da magnífica semente da ciência agropecuária brasileira – a Embrapa”. O presidente da Fiesp, Josué  Gomes da Silva, e o presidente do Cosag, Jacyr Costa, entregaram a lembrança ao professor José Pastore. Roberto Rodrigues e Silvio Crestana entregaram a homenagem ao ex-ministro Cirne Lima.

A cerimônia finalizou com as falas dos três homenageados – Cirne Lima, José Pastore e Eliseu Alves –, que refletiram sobre o processo de criação da Embrapa, a visão de Estado por trás da Instituição e a necessidade de manter o investimento em ciência como alicerce para o futuro da agricultura.

Da visão ao protagonismo

Eloisa Alves falou em nome do marido, Eliseu Alves, e destacou sua defesa intransigente da meritocracia, recusando indicações e orientações políticas na Embrapa; a formação de quadros técnicos de excelência, que moldaram a instituição como referência mundial em ciência tropical; e a liderança na criação de centros de pesquisa em regiões produtivas e de distritos de irrigação autônomos, como os de Juazeiro e Petrolina. A fala lembrou episódios em que Eliseu respondia a pressões políticas com firmeza. O troféu foi entregue por Elisio Contini, atual conselheiro do Cosag, ao lado dos também conselheiros Celso Moretti, Cleber Soares e Marcelo Morandi – todos embrapianos.  

José Pastore destacou a importância da integridade e do rigor técnico na criação da Embrapa. Recordou o episódio em que, ainda jovem sociólogo estudando nos Estados Unidos, recebeu a recomendação para observar com atenção o processo de inovação agrícola no Brasil. Essa orientação o levou a coordenar, em 1973, o grupo de estudos que originou a Embrapa. Em sua fala, ele atribuiu o sucesso da Instituição à recusa consciente de Eliseu Alves em ceder a pressões políticas, valorizando a seleção por mérito e o compromisso com a ciência. Para ele, a Embrapa tornou-se grande ao evitar a interferência do Estado e manter como base a competência, o entusiasmo e a ética de seus profissionais.

Luiz Fernando Cirne Lima, por sua vez, abordou a gênese visionária da Embrapa a partir da convicção de que o Brasil precisava tropicalizar o conhecimento agrícola. Ao propor ao então presidente Médici o envio de mil brasileiros para estudar nas melhores universidades do mundo, argumentou que, mesmo que muitos não voltassem, alguns retornariam com excelência suficiente para criar uma instituição genial. Cirne Lima rememorou também seu papel como instigador da organização das cooperativas brasileiras e exaltou os pilares que sustentaram a criação da Embrapa: nacionalismo, patriotismo e idealismo. Em sua fala emocionada, afirmou que a combinação de pesquisa, agricultores e políticas públicas moldou o avanço brasileiro rumo à segurança alimentar e ao protagonismo global diante dos grandes desafios do século.

Silvio Crestana relatou um episódio marcante de sua gestão à frente da Embrapa, destacando a relação de confiança que construiu com o então vice-presidente da República, José Alencar. Crestana contou que frequentemente era convidado por Alencar para acompanhá-lo em viagens, convite que ele sempre aceitava com satisfação, cancelando outros compromissos. Ele compartilhou, com emoção, um episódio ocorrido no 34º aniversário da Embrapa, quando Alencar, mesmo em tratamento de saúde, fez questão de prestigiar a celebração como presidente em exercício. Ele citou que o político tirou os óculos, abandonou o discurso escrito, como se precisasse respirar melhor, e soltou a frase que descontraiu e emocionou todos os presentes: “Costumo dizer pelo mundo inteiro que o Brasil hoje possui terra, água, sol…  e a Embrapa!”.

Já Roberto Rodrigues, mencionado como a principal autoridade hoje em agro no País e representante do setor no exterior, foi apontado como o idealizador da homenagem ao trio fundacional da Embrapa. Ele foi lembrado por seu envolvimento com o cooperativismo e a formulação de políticas públicas, mas também teve seu papel valorizado como ministro da Agricultura e como alguém que acompanhou, desde jovem, as discussões iniciais sobre a criação da Embrapa e da legislação cooperativista, ao lado de seu pai, Antônio José Rodrigues Filho.

“Deu certo”

Ao longo da cerimônia, diversos participantes resumiram em uma expressão simples o sentimento coletivo: “deu certo”. A criação da Embrapa, fundada sobre ciência, meritocracia e compromisso público, foi reconhecida como uma das políticas mais bem-sucedidas da história recente do Brasil. Entre homenagens e memórias, o êxito da Instituição foi celebrado como conquista nacional.

Foto: Jorge Duarte / Embrapa

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