O XVIII Ebramem, que uniu teoria e prática, apresentou como Canadá, Itália, Portugal, Chile e outros países vêm derrubando mitos sobre construções com madeira e fomentando uma nova mentalidade construtiva envolvendo sustentabilidade, qualidade, alto padrão e conforto. Os participantes, formados por acadêmicos, pesquisadores, profissionais da engenharia, da arquitetura e do design, presenciaram palestras internacionais e debates com profissionais de peso.
Entre os palestrantes internacionais, estavam Eric Karsh (engenheiro estrutural canadense), Martin Hurtado (arquiteto chileno), Tobias Ott (engenheiro alemão que atualmente mora no Chile), Luís Jorge (engenheiro civil português), Gustavo Lozano Côrtes (engenheiro industrial madeireiro brasileiro, mas atualmente encabeça projetos no Canadá), Franco Piva. (engenheiro estrutural italiano).
Já os painéis de debates abordaram as temáticas “O cenário da madeira engenheirada no Brasil”, “Arquitetura em madeira e habitação social”, “Norma de wood frame”; “Políticas públicas do setor”, e “Edifícios em madeira”.
Nem concreto, nem aço: o futuro da construção civil está na madeira
Diante da urgência climática e da necessidade de descarbonizar a economia, a construção civil brasileira volta seus olhos para soluções mais sustentáveis. A madeira engenheirada é a estrela desse processo e vem se consolidando como uma alternativa viável, eficiente e ambientalmente responsável — com potencial para revolucionar o setor. No Brasil, a produção cresceu 160% em cinco anos e a previsão é de que a produção global avance 115% nos próximos dez anos. Leve, versátil e com baixa pegada de carbono, a madeira alia rapidez construtiva, alta precisão nos projetos e menor impacto ambiental, além de contribuir diretamente para a redução das emissões de gases de efeito estufa.
Com um déficit habitacional de mais de seis milhões de moradias no país, a construção industrializada em madeira se apresenta como uma resposta concreta e escalável, especialmente para projetos habitacionais e reconstrução urbana. Essa tendência ganhou ainda mais força no XVIII Ebramem (Encontro Brasileiro em Madeiras e em Estruturas de Madeira), realizado nesta semana em Curitiba.
Reunindo centenas de empresários, técnicos e pesquisadores do setor, o evento é um marco político e científico na mobilização nacional em torno do enorme potencial construtivo da madeira engenheirada no Brasil. Para os próximos anos, os setores florestal e madeireiro projetam um crescimento exponencial, com a madeira cada vez mais presente no cotidiano da construção civil — de edificações modulares pré-fabricadas a paredes, lajes, vigas e habitações, tanto populares quanto de alto padrão.
Em 2024 o Brasil produziu 10 mil m³ de madeira engenheirada, enquanto a Alemanha e a Áustria produziram 7,4 milhões m³, em um território várias vezes menor do que o do Brasil. Mas a produção brasileira avança. Há cinco anos, o país produziu menos de 4 mil m³.
Os dados, apresentados pelos especialistas durante o Ebramem, apontam que o crescimento da madeira na construção civil depende da superação de algumas barreiras. “Falta de mão de obra qualificada, de competência técnica, tanto da parte que envolve a arquitetura como a engenharia, e de políticas públicas específicas que incentivem as construções em madeira. São alguns dos gargalos que o setor precisa enfrentar e vencer”, destaca o presidente da Associação Paranaense das Empresas da Base Florestal (APRE Florestas), Fábio Brun.
Para ele, o exemplo internacional mostra o caminho: “Todos os países que se destacam nesse setor começaram pelo poder público. Seja por legislações específicas, metas em licitações ou benefícios fiscais. Foi sempre o Estado quem deu o primeiro passo”, completa.
Países que hoje estão à frente do Brasil, como o Canadá, Áustria, Alemanha, Suécia, Finlândia e França, começaram pelo setor público. “Muitos começaram por obras públicas ou por meio de determinações legais exigindo que parte das construções fosse de madeira ou com a concessão de incentivos fiscais”, afirma Patrick Reydams, engenheiro e consultor técnico da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep) e mediador do painel “Cenário da madeira engenheirada no Brasil”.
Enquanto isso, no Brasil, a consolidação do setor passa também pelo reconhecimento das vantagens técnicas e produtivas desse modelo. O sistema construtivo com madeira permite obras mais rápidas — com redução de até 40% no tempo de execução — e oferece um controle rigoroso de qualidade, uma vez que as peças saem prontas da fábrica para montagem direta no canteiro. Tecnologias como o CLT (Cross Laminated Timber) e o MLC (Madeira Lamelada Colada) já viabilizam construções seguras, sustentáveis e em larga escala, incluindo edifícios de múltiplos andares, como ocorre em países da Europa e da América do Norte.
Neste cenário de transformação, o Ebramem reforça o protagonismo da madeira na construção civil. O evento realizado em Curitiba se consolidou como espaço de articulação entre empresas, governo, universidades e profissionais da engenharia e arquitetura. Mais de 500 participantes debateram temas como inovação, políticas públicas e o panorama nacional e internacional da madeira engenheirada.
Durante o encontro, a presidente do Instituto Brasileiro da Madeira e das Estruturas de Madeira (Ibramem), Ângela do Valle, foi enfática: “O futuro da construção civil não será de concreto, nem de aço, se quisermos que ele seja sustentável. Cada metro cúbico de madeira utilizado em substituição a materiais convencionais representa uma oportunidade de reduzir emissões, gerar empregos, estimular inovação e promover inclusão social. A madeira vem como protagonista e as florestas plantadas precisam ser vistas como ativos estratégicos de uma nova economia verde”.
Embora ainda enfrente desafios estruturais e culturais, a construção civil em madeira ganha força no Brasil. A madeira plantada e certificada, além de ser um ativo estratégico da bioeconomia, pode e deve ocupar papel central na construção de cidades mais inteligentes, resilientes e sustentáveis. “O Brasil tem um grande desafio social e ambiental, e a madeira pode ajudar a suprir essa demanda de forma mais eficiente e limpa. Estimamos um crescimento mundial de 115% nos próximos 10 anos”, destaca Calil Neto, CEO da Rewood, empresa que participa da exposição.
Os especialistas do setor deixam claro que o avanço da construção civil em madeira no Brasil depende, sobretudo, de uma mudança de mentalidade. Com incentivos adequados, capacitação técnica e políticas públicas alinhadas à sustentabilidade, o país tem potencial para se tornar referência global em construções mais limpas, rápidas e eficientes. Durante o evento, o diretor executivo da APRE, Ailson Loper, deixou um recado: “A madeira engenheirada não é apenas uma alternativa viável — é uma necessidade diante dos desafios climáticos, sociais e econômicos que se impõem. O momento de agir é agora”.
O Ebramem é organizado pelo Instituto Brasileiro da Madeira e das Estruturas de Madeira (Ibramem), pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), pela Associação Paranaense de Empresas de Base Florestal (APRE) e pela Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), que sediou o evento. A iniciativa uniu teoria e prática, além de apresentar como Canadá, Itália, Portugal, Chile e outros países vêm derrubando mitos sobre construções com madeira e fomentando uma nova mentalidade construtiva envolvendo sustentabilidade, qualidade, alto padrão e conforto.
Crédito da foto: Fernando Dias
Fonte: APRE