Quando se fala em eucalipto, a imagem mais comum que vem à mente é a da madeira usada para papel e celulose. Mas a árvore, que se destaca por seu rápido crescimento e alta adaptabilidade, vai muito além disso. De cremes e antissépticos a construção civil e geração de energia, os usos do eucalipto são diversos e impactam diferentes setores da economia.
Segundo Wilson Contieri, gestor da Floresta Estadual de Pederneiras (FEP), localizada no interior de São Paulo, praticamente todas as partes do eucalipto podem ser aproveitadas. “As toras de Eucalipto são as partes principais para a produção de papel e celulose e outros produtos industriais. As folhas de algumas espécies são utilizadas na indústria para extração de óleo essencial”, explica.
A versatilidade da árvore é resultado de uma combinação de fatores, como o rápido desenvolvimento e a grande variedade de espécies. “O melhoramento genético da espécie e a possibilidade de clonagem também contribui para a versatilidade das espécies do Gênero Eucalyptus. E a possibilidade da mecanização do plantio, tratos culturais e colheita também contribuíram para o sucesso dessa espécie florestal”, afirma Contieri.
O eucalipto está presente em produtos de diferentes indústrias. Além do papel, é utilizado na construção civil, na fabricação de móveis, na geração de energia e nas indústrias têxtil, alimentícia, cosmética e farmacêutica. “Através do óleo essencial do Eucalipto que entram na composição de produtos farmacêuticos como antissépticos, analgésicos e anti-inflamatórios e cosméticos como cremes, sabonetes e shampoos”, diz o gestor da FEP.
No campo, o eucalipto também tem papel importante. Para o produtor rural, a madeira é usada no cercamento de propriedades, construção de galpões, currais, estufas, casas de madeira e pontes. “Além disso, é usado das folhas de Eucalytus citriodora no controle dos carunchos do milho armazenado em paióis”, destaca.
Estacas de eucalipto são utilizadas em espaldeiras de uva e tomate, sendo fundamentais para a condução dessas culturas. Já na agroindústria, ele aparece como fonte de energia calorífera em processos como secagem de grãos, farinha, amidos, destilação e concentração de sucos e molhos.
A madeira de eucalipto tem se tornado uma alternativa cada vez mais valorizada como fonte de energia renovável. Ela é usada tanto na forma de lenha quanto de carvão vegetal. “As espécies de alta densidade da madeira produz carvão de alta qualidade, muito apreciado pelos consumidores domésticos, churrascarias”, explica Contieri.
As pesquisas sobre a árvore não param. Estão em andamento estudos para o desenvolvimento de novos clones com maior resistência à seca, a herbicidas como o glifosato e às mudanças climáticas. O objetivo é ampliar ainda mais o uso do eucalipto em diferentes áreas, com responsabilidade ambiental.
Do eucalipto ao papel: produção brasileira alia genética, trabalho e inovação
Confira reportagem da EPTV/Rede Globo
Pouca gente imagina que aquela folha de papel comum, usada no dia a dia, começa a ser produzida muitos anos antes, ainda no campo. O Brasil está entre os dez maiores produtores de papel do mundo e lidera a exportação de celulose, matéria-prima essencial para a fabricação. Em Mogi Guaçu, no interior de São Paulo, o ciclo começa com o plantio de eucaliptos. Apesar da mecanização, o trabalho humano é indispensável. “Plantamos cerca de 30 mil mudas por dia, com uma equipe de mais de 40 pessoas”, explica Bruna Dinofre, coordenadora de silvicultura.
A cada muda, uma floresta começa a crescer. Para garantir produtividade e sustentabilidade, a empresa investe em diversidade genética: são 13 variedades de clones diferentes, escolhidos conforme o solo e o clima. “Não é tudo igual como parece de longe. Cada tipo de muda é adaptado a uma condição específica”, conta Fabiano, coordenador do viveiro, que produz 16 milhões de mudas por ano. A escolha precisa dessas mudas é o que garante, anos depois, madeira de qualidade para abastecer as fábricas.
Esse ciclo da floresta ao papel leva tempo, já que a colheita dos eucaliptos só acontece entre seis e sete anos após o plantio. Em Luís Antônio (SP), começa a etapa industrial: a madeira chega em grandes caminhões, é descascada, picada e transformada em cavacos. “Esses cavacos vão para o digestor, uma espécie de panela de pressão gigante, onde são cozidos por seis horas para separar a celulose da lignina”, explica Vinícius Pereira, gerente executivo da produção. O resultado inicial é uma polpa escura, que ainda precisa passar por um processo de branqueamento.
Depois de cerca de 12 horas de processamento, a celulose ganha a aparência clara com a qual estamos acostumados. A partir daí, começa a formação do papel em enormes máquinas que operam sete dias por semana. As bobinas gigantes são cortadas e padronizadas antes de chegarem às prateleiras. Do campo à fábrica, o que parece simples envolve ciência, engenharia e muita dedicação de quem trabalha para transformar eucalipto em papel. O vídeo completo mostra todo esse caminho — e as histórias de quem faz esse ciclo acontecer.
Fonte: EPTV