Confira íntegra da entrevista do presidente da Associação Gaúcha de Empresas Florestais (Ageflor) para a revista Referência Florestal em sua edição do mês de março de 2020. Clique na imagem e confira a conversa que abordou cenário, perspectivas de atuação da Associação e setor, legislação ambiental e mercado de acácia, eucalipto e pinus aconteceu antes do mundo ser atingido pela pandemia do COVID-19 e por isso o tema não é mencionado especificamente.
Perfil: Paulo Cesar Nunes Azevedo
Local e data de nascimento: Porto Alegre, 23/11/1954
Formação: Engenheiro Agrônomo
Atividades que se dedica:
Eleito presidente da Associação Gaúcha de Empresas Florestais (Ageflor) para o biênio 2020-2021. É diretor do Grupo Flopal e diretor-fundador da Âmbar Florestal, empresa especializada na extração de resina em florestas plantadas de pinus no Litoral do Estado do Rio Grande Sul.
Como avalia o momento para o setor florestal no Rio Grande do Sul?
O momento para o setor florestal no RS é de boas perspectivas. Esse setor é muito diversificado nas suas possibilidades mercadológicas. Quanto aos projetos florestais estão inseridos em uma cadeia produtiva estruturada e com boas práticas empresariais, mesmo passando por momentos mais complexos e desafiadores que pode normalmente ocorrer durante os ciclos econômicos favoráveis ou de instabilidades produzirá bons resultados a todos os envolvidos.
Neste cenário, quais são os principais desafios da nova diretoria para o biênio?
O setor florestal precisa amadurecer, afirmar-se e demonstrar sua importância social, econômica e ambiental, como algo positivo para a sociedade e para o meio ambiente. Veja um exemplo de como isso é possível com monoculturas o caso da vitivinicultura da Serra Gaúcha e mesmo demais regiões. A visão sobre esta cultura é unânime que é de interesse geral. Nosso desafio é conseguir demonstrar à sociedade o importante papel que tem o plantio de árvores para fins de produção, de acácia, eucalipto e pinus. Superou-se um passado meramente extrativista para a realidade de hoje. Há sempre desafios a vencer nesse caminho mas existe um propósito meritório e dignidade no empreendedorismo florestal. As empresas que representamos não só cumprem a legislação, como impactam positivamente as comunidades no lado social e econômico. A sociedade precisa dos produtos que a cadeia florestal produz. Nosso principal objetivo é buscar esse amadurecimento porque as outras questões mais pontuais de ordem política, jurídica e de burocracia via de regra decorrem disso. E para as pessoas que trabalham no setor esse prestígio produz sinergia positiva ao empreendedorismo.
O ano de 2020 iniciou com o Novo Código Ambiental do RS sancionado. Quais a avaliação e as perspectivas da Ageflor sobre essa mudança na legislação?
Houve uma evolução. A legislação garante os valores de conservação importantes à sociedade e ao ambiente mas permite o incentivo ao empreendedorismo, dando segurança jurídica.
Qual eram os entendimentos ou equívocos de legislação que dificultavam a expansão do setor?
Havia uma visão restritiva, inclusive discordante da lei nacional e com exigências equivocadas do interesse da sociedade, que é o de incentivar o desenvolvimento de forma sustentável.
Além dessa nova lei, o que evoluiu em termos de legislação e incentivo ao setor nos últimos anos no RS?
A melhoria dos processos de licenciamento, abertura ao diálogo, a busca da harmonia dos interesses de todos os segmentos da sociedade e o envolvimento das universidades como atores dos processos internos das empresas são indicadores importantes da evolução do setor.
A economia brasileira vem de um período de crise. Acredita que está mudando esse cenário? Há fatos e dados para ter uma visão otimista?
Nossos produtos e nossas cadeias naturalmente se desenvolvem mais nos momentos de menos incertezas, sem crise. O país passa por um processo de depuração, pois vinha numa visão de desenvolvimento econômico equivocada. Tanto é que nos últimos 20 anos passamos de um país visto no mundo como alta viabilidade para atrair empreendimentos importantes e nós não conseguimos aproveitar este momento em que tudo parecia favorável. O que também pode se dizer do que aconteceu aqui no Rio Grande do Sul nesse mesmo período. Havia uma expectativa de investimentos que acabaram não se concretizando aqui, foram viabilizados fora. Então é importante a mudança do Brasil e do RS através de reformas estruturais. Temos que fazer o nosso tema de casa para poder brindarmos a sociedade com perspectivas mais positivas.
Quais as perspectivas de investimentos para o setor florestal gaúcho para os próximos anos?
Existe uma afirmação do setor de papel e celulose com a atuação da CMPC. E uma consolidação das cadeias de pinus e acácia, na parte de madeira, cavacos, resinas e químicos. O aumento do uso da madeira para energia dará uma contribuição muito grande também.
Como está o mercado e onde estão os maiores compradores de tanino e também do cavaco produzido no Rio Grande do Sul?
A Ásia é o maior comprador tanto de tanino como também de cavaco. Dentro desses mercados, China e Japão se destacam na aquisição de cavaco. O momento é de incerteza de preços pela queda de preço da celulose, motivado por movimentos como de implantação de novas indústrias que ocasiona aumento de oferta. É momento de negociação e a médio prazo o preço deve se estabilizar. China é o principal mercado de tanino, sendo estável em volume e preços. E são boas as perspectivas no mundo para novas aplicações no tratamento de água e efluentes, adesivos, nutrição animal, substituindo produtos sintéticos e minerais de forma mais ecológica.
Quais são os principais gargalos específicos para o RS em termos de transporte e escoamento de produtos florestais e que podem ser trabalhados?
Precisa continuar acontecendo essa busca constante para a desburocratização nos licenciamentos. Já na área de logística precisaria andar um pouco mais. Principalmente na rede viária das áreas de encargo do Rio Grande do Sul e dos municípios, algo que é deficiente e eleva os custos substancialmente. Assim como outros modais poderiam evoluir mais, por exemplo, na parte lacustre, de hidrovias e melhoria e ampliação das ferrovias.
Quais são as grandes vantagens competitivas do Rio Grande do Sul para o setor florestal?
Apesar disso que citei acima, temos um porto em Rio Grande importante, de grande potencial e área retroportuária, posicionado estrategicamente em relação aos mercados de além mar. Apesar de ser o extremo sul do Brasil, estamos no centro do Mercosul. Localização também de um clima e solos extremamente favorável a plantios, uma estrutura de produção agrícola tradicionalmente bem desenvolvida e mecanizada que pode dar suporte ao setor e pessoas treinadas e qualificadas para a atividade.
Atualmente qual a colocação do Rio Grande do Sul diante dos estados brasileiros no setor florestal e qual a intenção da Ageflor para ampliar a representatividade nos próximos anos?
Em eucalipto representa uma participação de aproximadamente 5% do plantado no Brasil, segundo dados recentes da Ibá – Indústria Brasileira de Árvores. Em pinus representa a terceira mais representativa área e para a acácia-negra uma produção que se concentra praticamente toda no RS. Com relação a intenção, a Ageflor enxerga que o estado tem possibilidade de ampliação, precisa qualificar um pouco mais as suas cadeias produtivas e o negócio florestal. A ampliação deve estar harmonizada com todos os interesses de modo inteligente. Devemos trabalha para termos um projeto florestal para o RS para os próximos anos.