O terceiro Fórum de Energias Renováveis ocorreu na quinta-feira, 16/8, no Centro de Eventos do CIEE-RS em Porto Alegre. A abertura foi do presidente do Sindicato da Indústria de Energias Renováveis do Rio Grande do Sul (Sindienergia-RS), Guilherme Sari. Ele representa a entidade que, junto com o Correio do Povo, realizou o evento. Assista a transmissão do evento na íntegra.
Especialistas, gestores públicos e representantes de empresas e entidades debaterão os temas relacionados com a transição energética. De acordo com Sari, muitas evoluções já ocorreram neste tema, mas há espaço para mais desenvolvimento dos setores envolvidos. “A gente não pode parar nesse processo de aproximar, cada vez mais, o governo do setor industrial e, principalmente, dos empresários, que são as pessoas que vão tomar as decisões nos investimentos”, avaliou.
O presidente do Sindienergia-RS, Guilherme Sari, disse que a grande meta da entidade é trazer a indústria de renováveis para o RS. O setor, segundo ele, gera empregos e oportunidades, mas o principal benefício do uso de alternativas energéticas é a autonomia na geração.
Essa pauta está sendo tratada como uma das prioridades do governo do Estado, segundo o secretário de Desenvolvimento Econômico, Ernani Polo. “É fundamental avançarmos de forma organizada e planejada. O Estado, inclusive, já fez um estudo sobre a produção de hidrogênio verde para nos posicionarmos no cenário nacional e internacional como um grande player produtor”, observou.
O diretor vice-presidente da Farsul, Domingos Lopes, afirmou que o setor rural está engajado nos compromissos ambientais internacionais assumidos, principalmente na redução da emissão de carbono. “O agro é muito mais do que energia e mais do que uma atividade a ser realizada. É a base de toda a matriz que desenvolve os 42% de PIB. O Brasil ainda é dependente da atividade primária”.
O agro se aproxima do segmento energético para mitigação do aquecimento global, de acordo com ele, para atingir, até 2030, de 40% a 45% de fontes renováveis na matriz.
Nessa linha, discutiu-se o subsídio financeiro necessário para alcançar as metas globais e o presidente do Badesul, Claudio Gastal, mencionou a possibilidade de criação de um fundo. A revolução do sistema elétrico precisa, apontou ele, de uma nova forma de financiamento. “No processo de zerar o carbono, será necessário que órgãos como FMI, o banco dos Brics e outros abram linhas de crédito que permitam países em desenvolvimento e subdesenvolvidos lançarem mão para fazer essa conversão.”
O potencial ainda não explorado no Rio Grande do Sul para a produção de biodiesel foi um dos destaques da participação do presidente do Conselho de Administração da Associação dos Produtores de Biodiesel do Brasil (Aprobio), Francisco Turra.
O ex-ministro da Agricultura abriu o painel Bioenergias, que abordou a relevância do mercado brasileiro de biodiesel para a redução da emissão dos gases de efeito estufa (GEEs) à atmosfera e para ampliar a geração de renda ao campo e às cidades. “Cada R$1 adicional de produção de biodiesel promove a inclusão de outros R$4,40 na economia como um todo”, exemplificou.
Uma das oportunidades está na utilização de uma grande diversidade de biomassas para a geração de biodiesel. Uma delas, cita o ex-ministro da Agricultura, está na graxaria proveniente dos frigoríficos. “Isso é um problema ambiental, mas que, agora serviu para a produção do biocombustível exportado pelo Brasil para Bruxelas”, apontou. Turra também lembrou da utilização de óleo de cozinha para a finalidade e das oportunidades que serão abertas pela utilização de grãos cultivados na safra de inverno para fabricação de etanol, a partir de 2024, pela B&8, em Passo Fundo.
Turra destacou também que o Brasil é o terceiro produtor mundial de biodiesel, mas que suas 59 usinas operam com capacidade ociosa. Localizadas em 53 municípios de 15 estados, as indústrias produziram 6,3 bilhões de litros em 2022, mas que estão autorizadas a produzir quase 14 bilhões de litros. “Devemos garantir a execução da decisão de ampliar e atingir a mistura de 15% de biodiesel ao diesel fóssil (B15) o quanto antes”, defendeu.
Ao mesmo tempo, falou da necessidade de o país adotar um novo cronograma de aumentos da mistura com vistas ao B20. O presidente do Conselho de Administração da Oleoplan, Irineu Boff lembrou que, além de emitir 70% menos GEEs ao meio ambiente, o biodiesel é gerador de alimentação animal por meio do farelo de soja proveniente das indústrias. “Ao fazer um quilo de biodiesel estamos fazendo quatro quilos de farelo de soja, que alimenta suínos e aves”, afirmou.
Diretor da Haas Madeiras é painelista
A bioenergia gerada a partir das florestas plantadas pautou a participação do representante da Associação Gaúcha de Empresas Florestais (Ageflor), Júnior Haas. “Muitas vezes, as florestas não são lembradas quando se fala em energia renovável, ,mas sua participação está associada à energia térmica industrial, na produção de calor por carvão vegetal ou pellets”, detalha. Haas lamentou que o setor seja penalizado pela legislação ambiental atualmente vigente no Estado, o que limita sua expansão. E citou a falta de atratividade bancária para ofertar linhas de crédito para o setor devido ao grande prazo de carência que exige a atividade, cujo retorno financeiro começa em oito anos após o primeiro plantio.
O debate foi mediado por Luiz Leão, vice-presidente da Associação Gaúcha de Fomento às Pequenas Centrais Hodrrelétricas (AGPCH), que citou o grande potencial gerador de energia da casca de arroz no Estado, que é responsável por quase a totalidade da safra brasileira do grão. “O produto tem baixa umidade e se utilizado para produção de energia limpa não vai para o meio ambiente, onde demora cinco anos para se decompor”, concluiu.
RS prepara estruturação para nova cadeia produtiva de hidrogênio verde
O Rio Grande do Sul deverá contar, ainda este ano, com uma política voltada para a estruturação e o desenvolvimento de uma nova cadeia produtiva pautada na produção e comercialização de hidrogênio verde. A informação foi confirmada pela secretária do Meio Ambiente e Infraestrutura, Marjorie Kauffmann.
A utilização do combustível, obtido por meio da quebra das moléculas da água, será um importante vetor para diminuir o aquecimento global, pois não emite CO2 (Dióxido de Carbono), um dos gases geradores do efeito estufa. E que pode servir, principalmente, como fonte de energia para o transporte e a indústria.
A ação ocorre no âmbito das políticas de mudanças climáticas e transição energética do Estado e atende à necessidade apontada em um estudo encabeçado pela Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema) desde o ano passado sobre o potencial gaúcho para a produção do combustível limpo.
Segundo a secretária, o desenho dessa nova cadeia econômica é realizado pela Sema em conjunto com a Casa Civil e com o gabinete do governador Eduardo Leite. “Estamos desenhando uma nova cadeia econômica e uma de evolução ambiental para o Rio Grande do Sul˜, revela.
O estabelecimento da nova cadeia produtiva tem, como base, as potencialidades verificadas pelo mapeamento da Sema para a geração e o escoamento do combustível iem dez municípios: Rio Grande, Giruá, São Francisco de Assis, Dom Pedrito, Uruguaiana, Vila Nova do Sul, Santa Vitória do Palmar, Mostardas, Porto Alegre, Arroio do Sal e Cambará do Sul. Uma das vantagens desses locais foi o custo de produção do quilo do hidrogênio verde ficou em torno de 2 dólares, valor três vezes menor que os 6 dólares/kg praticados em nível mundial.
O cálculo levou em conta o custo da energia, do local e da logística do transporte das cargas. O estudo também demonstrou que o hidrogênio verde gerado no RS pode abastecer o mercado interno, o de outros estados e até países. A estrutura também pode servir de base para a produção de amônia, importante insumo utilizado na agricultura brasileira, argentina e uruguaia, e abre possibilidade para a geração de Metanol, composto bastante utilizado nas produção de biodiesel e na indústria química.
Enquanto a política não é oficializada, a Sema firma memorandos de entendimentos com empresas interessadas em atuar no segmento. “Para aqueles que, de fato, têm a intenção de investir, rodamos o modelo e detalhamos, dentro da realidade de cada município, quanto atingirá a capacidade de produção, o custo do terreno, da energia. Como estamos fomentando o tema, temos a capacidade de unir os atores envolvidos no processo em cada região”, descreve a secretária.
Marjorie cita, como exemplo, o município de Rio Grande, que firmou protocolo de entendimento com o governo estadual para transformar sua rede de transporte municipal para que seja movida a hidrogênio verde. “Lá, uma planta de hidrogênio verde poderia ter uma garantia de consumo dos ônibus municipais”, pontua.
O líder do governo na Assembleia Legislativa e presidente da Frente Parlamentar de Energias Reniváveis, deputado Frederico Antunes, propôs ao grupo que as propostas para o desenvolvimento do setor no Estado fossem levadas ao governador Eduardo Leite na próxima semana. “O papel de promoçao deste evento do Grupo Record é fundamental, pois temos uma restriçao de conhecimento nesta área e transmitir essas informações ao Estado é fundamental”. Participaram também do encontro o presidente da Portos RS, Cristiano Kingler, e o professor Nado Teixeira, que é coordenador geral da Famurs.
Apesar da grande disponibilidade de recursos, RS ainda importa energia
As diferentes características do Rio Grande do Sul propiciam o uso de várias fontes energéticas, mesmo assim, o Estado ainda é dependente. Uma das matrizes indicadas como alternativa é a solar e o seu uso torna o Estado um destaque no Brasil por ser o segundo no número de instalações. “Nosso potencial é fantástico”, destacou o vice-diretor de Energia Solar do Sindienergia-RS, Tiago Cassol Severo.
Ele informou que há, no Rio Grande do Sul, 200 mil unidades consumidoras residenciais de energia solar, 22 mil de pontos comerciais, 37 mil unidades rurais e 4 mil instalações fotovoltaicas industriais.
Na opinião do diretor do Sindienergia-RS Frederico Boschin, uma das alternativas para incrementar o setor seria o incentivo de cooperativas, que auxiliariam na mobilização para distribuição e obtenção de recursos. Ele também destacou a necessidade de diagnosticar a área e identificar quanto o Estado gera e quanto consome. As informações embasariam planos mais seguros para a produção. Ressaltando as vantagens, Boschin explicou que a energia solar é complementar a outras fontes. “No período de seca, por exemplo, tem sol”, disse.
Mara Schwengber, coordenadora da Absolar, trouxe alguns entraves que a indústria solar tem enfrentando na aprovação de projetos. “O Estado precisa nos apoiar nos desafios do setor. São 68 mil empregos”, destacou. Ela avaliou, contudo, que o segmento segue como protagonista no processo de transição energética. “Desconheço outro setor que tenha crescido tanto quanto o nosso”, afirmou.
Para o suporte do segmento, o gerente de Operações do Setor Público e Infraestrutura do BRDE, André Gotler, mostrou a disponibilidade da instituição para liberar recursos, com prioridade para projetos visando sustentabilidade. “Desde que a energia solar apareceu, o banco acreditou. A partir de 2017 e 2018, veio com mais força”, contou. “Tudo que for a favor do desenvolvimento do Estado, o banco está dentro. Estamos juntos nessa empreitada de tornar o RS autossuficiente e, quem sabe, gerador de energia”, complementou.
A terceira edição do Fórum de Energias Renováveis foi promovido pelo Correio do Povo e Sindienergia-RS e contou com o patrocínio da AEGEA, BRDE, Badesul, Senar-RS, Famurs e CIEE-RS.
Fonte: Correio do Povo