Ageflor – Associação Gaúcha de Empresas Florestais

Investimentos injetam otimismo para futuro da celulose no Rio Grande do Sul

A indústria gaúcha de celulose está impregnada de positividade desde o anúncio do aporte de R$ 24 bilhões pela CMPC em uma nova unidade em Barra do Ribeiro, no ano passado — decisão mantida pela multinacional chilena mesmo depois da catástrofe climática da enchente de maio. Presidente do Sindicato das Indústrias de Celulose, Papel, Papelão, Embalagens e Artefatos de Papel, Papelão e Cortiça do RS (Sinpasul), Celso Basso destaca que a nova unidade somada à já existente, em Guaíba, tornará a região o maior polo de celulose do mundo. “Em nenhum lugar no mundo existem duas fábricas tão perto produzindo quantidades tão relevantes”, garante.

Para o dirigente, o Rio Grande do Sul despertou para uma vocação, deixando definitivamente para trás um passado no qual o segmento foi ignorado, quando floresta plantada, segundo ele, era “demonizada”, o que fez a economia gaúcha perder oportunidades envolvendo instalação de empresas. Atualmente, as perspectivas são completamente diferentes.

“O Estado despertou para esta vocação, pois possui solo, clima, topografia, cultura e tradição local para o cultivo das florestas plantadas. Os investimentos previstos posicionam o Rio Grande do Sul como um novo polo estratégico da indústria global de base florestal”, avalia Basso, otimista.

Segundo Sinpasul, o Estado é o quinto do País em número de unidades produtivas de celulose e papel, com 8% do total nacional. Estaria próximo a 1 milhão de hectares de área de florestas plantadas, apenas 4,5% de área dedicada ao agronegócio, comparativamente, o que indica que há espaço para progredir.

Logística, infraestrutura e mão de obra especializada são os obstáculos à vista neste horizonte tão promissor. Basso destaca a dependência do modal rodoviário, a falta de investimento em ferrovias e hidrovias, além dos danos às estradas causados pela enchente do ano passado. E lamenta o Estado ter apenas um porto marítimo, em Rio Grande, enquanto Santa Catarina tem vários portos, além de diversos terminais de uso privado.

Para combater a falta de mão de obra, o dirigente afirma que o Sinpasul, como filiado à Fiergs, vem apoiando a iniciativa de criação de escolas pela federação, do fundamental ao profissionalizante.

Efeito da CMPC

No ano passado, a CMPC anunciou o Projeto Natureza, um aporte de R$ 24 bilhões que será implementado no município de Barra do Ribeiro. A nova unidade industrial terá capacidade para produzir 2,5 milhões de toneladas de celulose por ano. O cronograma não foi afetado pelo evento climático. Com início em 2026, as obras devem gerar 12 mil empregos (e, depois, cerca de 1,5 mil nas operações). A entrada em operação está prevista para 2029.

O empreendimento prevê investimentos em quatro áreas fundamentais da economia gaúcha: silvicultura sustentável; infraestrutura logística; produção industrial avançada; e conservação cultural e ambiental.

Em sua planta de Guaíba, a companhia concluiu o Projeto BioCMPC, com investimento de R$ 2,75 bilhões, que resultou na atualização de equipamentos e em um aumento de 18% na capacidade de produção, reforçando o compromisso da empresa com a sustentabilidade e inovação tecnológica. Em 2024, pelo segundo ano consecutivo, foi reconhecida como a empresa florestal mais sustentável do mundo, de acordo com o Índice Dow Jones de Sustentabilidade.

‘Setor é referência em sistema alinhado a ESG’, diz Antonio Lacerda, diretor da CMPC no Brasil

Jornal do Comércio – Como a empresa avalia a situação da indústria de celulose e papel no RS?

Antonio Lacerda – O setor vem se tornando cada vez mais protagonista no Estado. São gerados milhares de empregos e é promovido um incremento ao PIB. Também há uma contribuição em temas de sustentabilidade, já que o setor é referência em sistema produtivo alinhado às práticas de ESG.

JC – Quais são os principais desafios enfrentados hoje pelo setor?

Lacerda – Entre os desafios a serem superados, destaco a necessidade de ampliação da nossa base florestal. Temos trabalhado fortemente neste sentido, visando atender a produção atual e, em especial, sustentar a demanda que virá após a execução a pleno do Projeto Natureza CMPC. Em 2022 lançamos o RS Renda, um programa de fomento florestal que oportuniza que produtores rurais passem a integrar a cadeira de negócios da CMPC. Para isso, estabelecemos parcerias com o intuito de aumentar o volume de agricultores plantando eucalipto. Em 2024, acrescentamos mais de 12 mil hectares em áreas produtivas no Estado. Esse indicador demonstra que a comunidade rural gaúcha percebe valor em nossa proposta.

JC – A logística e a infraestrutura do RS têm atendido às necessidades da cadeia produtiva?

Lacerda – Do ponto de vista hidroviário, a nossa unidade industrial de Guaíba já conta com um porto próprio, que recebe madeira da região Sul e carrega celulose para o Porto de Rio Grande. Essa logística por hidrovia evita que ocorram 100 mil viagens de caminhão por ano, diminuindo a emissão de carbono e minimizando o risco de acidentes rodoviários. No caso das rodovias, existem estradas que já se encontram em estágio de duplicação, como as BRs 290 e 116, que são vias por onde passa grande parte do volume transportado pela nossa operação florestal. Essas obras são de extrema importância para viabilizar o Projeto Natureza CMPC, além de contribuírem na infraestrutura logística e competitividade.

JC – Como a empresa tem contribuído para melhorar a qualificação da mão de obra do setor?

Lacerda – Buscamos capacitar a mão de obra local. Um exemplo é o Curso Técnico em Celulose e Papel, que desenvolvemos há mais de 45 anos para a população vizinha às nossas operações, sempre de forma gratuita. Através de uma formação de 18 meses, o objetivo é habilitar profissionais para que possam disputar futuras oportunidades no mercado de trabalho, na companhia ou outras empresas.

Cenário nacional

  • A celulose fechou 2024 com alta de 33,2% nas exportações, na comparação com o ano anterior, chegando ao recorde de US$ 10,6 bilhões.
  • O Brasil registrou recorde de 25,5 milhões de toneladas de celulose em 2024, alta de 5,2% na comparação com 2023. A produção de papel também foi recorde no ano passado, atingindo 11,3 milhões de toneladas, alta de 4,6%.
  • O setor de árvores cultivadas é um dos motores da economia brasileira, com 4,7% de participação no total de exportações do país em 2024 (1% acima do resultado de 2023), além de ser o quarto item da pauta de exportações do agro brasileiro. Em 2024, o setor aumentou sua participação no total vendido ao exterior pelo agronegócio, chegando em 9,5% (em 2023 era de 7,6%).

Fonte: Jornal do Comércio

Foto: Marcelo G. Ribeiro/JC

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