“Quando o rebanho de ovelhas
findou e o gado já era de outros
o campo sujou deste jeito.”
Artigo de Augusto Simon, Engenheiro Florestal
Vamos tentar escrever algo… em undécima hora, por assim dizer, da salvação do nosso patrimônio florestal. A silvicultura bem dirigida tem como base imprescindível o conhecimento científico do objeto de que trata… Depois de termos definido o nosso objeto, é preciso delinear, o mais exatamente possível o problema fundamental de toda silvicultura. A pergunta é a seguinte: é o ambiente ecológico riograndense hostil ou favorável à floresta?
A primeira e mais importante das conclusões é que nosso ambiente favorece à silvicultura. O homem é essencialmente utilitarista. Como a madeira de dia para dia, mais se torna um dos grandes recursos de matéria prima para a indústria química, a silvicultura, forçosamente, deverá ser encarada sob o ponto de vista do maior rendimento. Ora, é muito duvidoso que a selva pluvial do nosso tipo jamais possa concorrer, no campo utilitário, com as culturas monotípicas das espécies escolhidas, geralmente estrangeiras. Para falar com franqueza, a mim me quer parecer que isto é muito melhor garantido por plantações monotípicas como o eucalipto ou a acácia ou outras das muitas que poderíamos cultivar com vantagem.
Devemos encarar este gravíssimo problema não só da nossa economia, mas ainda da nossa vida nacional numa atitude perfeitamente isenta de ilusões… Por estes motivos, reais e realistas, acho que a nossa política de silvicultura deve ser posta em prática em dois setores diferentes: o setor puramente utilitário deve ser preenchido pelo plantio de matos monotípicos, com espécies aptas para as várias exigências, quer nacionais, quer estrangeiras. Sob este ponto de vista, a cultura do eucalipto e da acácia já tem produzido, além da utilidade econômica, um grande bem: está se criando aos poucos uma verdadeira mentalidade de silvicultura junto com a experiência e as técnicas necessárias.
… Em vista do clima perenemente úmido, qualquer parte do estado, onde o solo seja suficientemente profundo, se presta, de maneira eminente, para a cultura de florestas.
Caros colegas florestais, ao contrário do usual coloquei aspas apenas na frase inicial que é minha, repetindo comentário frequente que ainda hoje se ouve na metade sul do estado. Não seja pelo pastoreio ou pelas queimadas ainda presentes, todo o campo que conheço vira mato e isto vai pelo menos até Dom Pedrito.
De resto, o texto acima, são extratos de palestra proferida pelo Padre Balduíno Rambo em 1958 na Sociedade de Agronomia quando ainda nem estávamos por aqui como profissionais florestais. Conheci este texto em publicação de importante ONG, a Assecan (Associação Ecológica Canela – Planalto das Araucárias) chamado “Documentos de Ecologia” e foi publicado em 1998.
Naquela data ainda não se tinha ideia do que aconteceria na década seguinte com professores “ensinando” às crianças os prejuízos dos reflorestamentos e advogados repercutindo com seus pares sobre o enorme consumo de água pelos plantios de eucalipto. O que tivemos então foi em cerca de 5 anos principalmente, entre 2004 e 2009, os poderes do estado e boa parte da sociedade gaúcha posicionando-se de uma ou outra forma contra o grande plantio de florestas que poderia ter ocorrido na época.
Em consequência disto foi estabelecido um inusitado zoneamento que joga por terra todo o conhecimento da engenharia florestal na formação e condução de florestas e estabeleceu um sistema de licenciamento lento, caro e totalmente exagerado para o setor na comparação com todos os outros estados da federação e principalmente com outras atividades passíveis de licenciamento no nosso próprio estado. Ao invés de falarmos de produção de água pela floresta, limpa e regulada, escrevemos que não há água suficiente para os plantios.
Tudo isto fez com que deixássemos de ter muitas áreas plantadas e com que grande parte do que foi plantado desde então pelos silvicultores tradicionais esteja fora da lei.
Por outro lado não acredito que algo tão mal feito possa sempre perdurar. Estamos tendo prejuízos sociais, econômicos e ambientais importantes em todo este processo. Desta forma a pergunta que fica é: até quando?
Augusto Arlindo Simon
Engenheiro Florestal – CREA 45.098
simonflorestal59@gmail.com