Ageflor – Associação Gaúcha de Empresas Florestais

Base florestal está ameaçada por restrições no cultivo de árvores

Confira reportagem de Pedro Carrizo para o Caderno Empresas & Negócios do Jornal do Comércio: 

Um antigo temor volta a assombrar os empresários da silvicultura no Estado: o risco de um possível apagão florestal frear a indústria. A prática voltada ao cultivo de árvores, normalmente ligada à fins comerciais, enfrenta impasses jurídicos e restrições ambientais que impedem a aquisição de novas terras, principalmente para a plantação de pinus e acácias. Com isso, novos empreendimentos se distanciam de terras gaúchas e se aproximam de outros estados brasileiros, reduzindo, de forma gradativa, a área de plantação das commodities no Rio Grande do Sul.

“O Estado é o único que tem zoneamento ambiental para silvicultura, era para ser uma ferramenta instrutiva e acabou se tornando restritiva”, diz o presidente Associação Gaúcha de Empresas Florestais (Ageflor), Diogo Leuck. Além disso, o dirigente ressalta que as licenças ambientais demoram muito para serem efetivadas e o cadastramento florestal não consegue criar diagnósticos sobre a atividade, que representa 4% do Produto Interno Bruto (PIB) gaúcho e 2,7% do território, segundo dados da Ageflor.

“Não existe fomento à prática. Nosso banco de dados está desatualizado, isso faz com o setor veja um futuro problemático”, concorda o coordenador do cadastro florestal da Secretaria de Agricultura Pecuária e Irrigação do Estado (Seapi), Fabrício Azolin. De acordo com o coordenador, a Seapi trabalha em uma reestruturação do cadastro, mas isso só acontecerá quando um trabalho integrado entre as secretarias estaduais instaurar um sistema de informatização eficiente. Atualmente o cadastro computa 30 mil usuários.

O zoneamento ambiental, estipulado pela Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam-RS), também está entre os tópicos na lista de reclamações da indústria de florestas plantadas. A medida é exclusiva no Rio Grande do Sul e divide o estado em 25 unidades de paisagem. A partir disso, cada unidade tem um percentual de ocupação passível de liberar ou não o plantio. Algumas unidades estão saturadas. De acordo com a Seapi, a região Nordeste do Estado, que contempla as maiores plantações de pinus, não comporta mais espaço para plantação.

A Fepam está preparando um diagnóstico para definir quais áreas estão aptas para expandir a produção da silvicultura, conforme informa Gabriel Ritter, diretor técnico da fundação. Até o fechamento da reportagem, o documento não foi divulgado.

Com o imbróglio estadual, as indústrias dependentes de pinus e da acácia-negra sofrem o risco de apagão, fenômeno que alertam há algum tempo. Entre elas, as de serraria, marcenaria, tornoaria, carvoaria, cavacos, chapas e aglomerados totalizam cerca de 6,5 mil estabelecimentos, nos quais são gerados em torno de 45 mil postos de trabalho, segundo dados do Sindicato das Indústrias de Celulose, Papel, Papelão, Embalagens e Artefatos de Papel, Papelão e Cortiça do Rio Grande do Sul (Sinpasul). O sindicato estima um déficit de 1 milhão de m³ de matéria-prima anual.

Para o presidente do Sinpasul, Walter Rudi Christmann, a única maneira de alavancar a produção do setor de base florestal é plantando. “Os produtores estão abandonando o plantio ou se mudando para outros estados. Há 10 anos que não surgem plantações novas”, diz Christmann.

Outro problema para a indústria é a não implementação da Lei Estadual nº 14.961, de 13 de dezembro de 2016, que define regras claras para o licenciamento ambiental da silvicultura. 

Atualmente o regramento da licença é aprovado a partir de portarias administrativas e resoluções. “Isso não traz segurança jurídica nem para quem vai plantar, muito menos para o técnico da Fepam. É necessário elencar qual licenciamento é necessário para determinado tipo de produtor”, diz o presidente da Ageflor, Diego Leuck.

Enquanto o Rio Grande do Sul não desburocratiza e define regras para a indústria florestal, outros estados flexibilizam o licenciamento para atrair mais empresas do ramo. O estado de São Paulo, por exemplo, pede estudos de impacto ambiental somente para áreas novas, acima de mil hectares – para áreas antigas só é necessário um cadastro. 

No Mato Grosso do Sul a única requisição é um comunicado autodeclaratório nos períodos de plantio e de colheita. Minas Gerais pede estudo de impacto ambiental só para grandes plantios (acima de mil hectares). Paraná, Santa Catarina e Bahia fazem apenas o cadastramento.

O apagão atinge as cifras destinadas a investimentos

Embora o setor de florestamento industrial alerte para um apagão florestal, que acontece quando a matéria-prima de uma produção – neste caso, árvores – se esgota, o que realmente preocupa é a falta de investimento na área. O temido vácuo entre produção e matéria-prima poderá ser diagnosticado de forma precoce já que as árvores devem ser plantadas, no mínimo, com cinco anos de antecedência. Porém, o olhar desconfiado do mercado para a insegurança jurídica gaúcha acontece em tempo real.

“A indústria que vislumbra um plantio menor não investe na ampliação de seus parques fabris e é isso que está acontecendo. O risco é de um apagão industrial”, alerta o presidente da Ageflor, Diogo Leuck.

O Rio Grande do Sul é bem maior que Paraná e tem duas vezes menos áreas plantadas para a indústria florestal. Enquanto o setor arrecada cerca de R$ 14 bilhões anuais em solo gaúcho, o outro estado sulista tem em torno de R$ 25 bilhões em receita, quase o dobro, diz Joésio Siqueira, vice-presidente da STCP Engenharia de Projetos Ltda. “Deverá ser uma questão fundamental para o próximo governo o fortalecimento da indústria de base florestal no estado gaúcho. Ainda há muito o que crescer”, ressalta Siqueira.

Também não é uma alternativa para o produtor comprar madeira de outros estados, já que o preço de frete das commodities é muito alto. Normalmente, as empresas instalam seus parques industriais em raios de até 160 km de distância das plantações de madeira.

Mesmo que o Estado ainda tenha mais oferta do que consumo, segundo Leuck, a proposta da Ageflor é fazer, ainda esse ano, uma revisão do zoneamento ambiental das florestas plantadas, em parceria com os órgãos estaduais competentes. “Defendemos um cadastro único que seja de responsabilidade do governo, e não subdividido entre secretarias”, afirma o presidente da Associação acrescentando que só assim a indústria voltará a crescer.

Atualmente, a silvicultura abrange cerca de 900 mil hectares de árvores plantadas no Rio Grande do Sul, entre produtores regularizados e informais. Porém, de acordo com o banco de dados da Ageflor, o volume total de plantações está estagnado. Enquanto a acácia-negra, utilizada para produção de carvão e derivados do MDF, reduziu pela metade sua área plantada – de 180 mil hectares para 90 mil hectares, o pinus, destinado a indústria moveleira e serrarias, manteve seu volume estagnado. Já o plantio de eucalipto dobrou nos últimos 10 anos, devido a ampliação da CMPC Celulose, o que minimizou o impacto que a queda de investimento tem causado à indústria.

Indústria cresce em nível nacional 

Mesmo que o Rio Grande do Sul não colabore em números expressivos, a exportação de produtos oriundos da silvicultura avançou 34% neste semestre, em comparação com o mesmo período do ano passado, de acordo com o levantamento da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá). O percentual totaliza US$ 5,5 bilhões negociados com o exterior e projeção a curto prazo é positiva.

Para o resto do ano e 2019, a estimativa é de um aumento, em média, de 46% sobre o faturamento no segmento de celulose. O principal fator que determina a alta de exportação é o crescimento do consumo de celulose na China.

O país asiático é o principal mercado externo para celulose brasileira, com incremento de 40,2% em valor exportado no semestre, seguida pela Europa ( 53,9%) e América do Norte (37,2%). Em consequência, os valores acumulados de negociação do produto com o mercado externo aumentaram 43,9%, em comparação com o semestre do ano passado.

“Em 2017 faturamos R$ 71 bilhões, ultrapassamos a produção da Índia e do Canadá e estamos, atualmente, entre os cinco mais importantes setores da economia”, diz a presidente da Ibá. Além disso, a celulose brasileira, de acordo com a Ibá, é reconhecidamente como a mais sustentável, considerando todo processo de fabricação.

Mercado de carbono estimula redução do efeito estufa

Já se sabe há muito tempo que a fotossíntese é um processo natural das plantas, que consiste em retirar o Dióxido de Carbono (CO2) da atmosfera e expelir oxigênio (O2) em troca. Porém, é recente a possibilidade de lucrar em cima desse fenômeno biológico.

Mais de 190 países firmaram um pacto mundial, em 2015, para reduzir as emissões de gases estufa. Em até dois anos, as medidas governamentais que visam a redução de carbono e de produtos não sustentáveis já devem ser colocadas em prática. Dentro das alternativas viáveis para a redução do efeito estufa, um possível mercado de carbono teria a função de monetizar a melhoria climática.

Hoje 51 governos nacionais e subnacionais adotam a precificação de carbono, como a China, o Canadá e a União Europeia. A medida irá permitir que países sem território para plantação de árvores possam fazer aportes financeiros em outros com terras aráveis disponíveis.

O Brasil tem 8,5 milhões de hectares de florestas plantadas para a produção e 5,5 milhões de hectares de área de preservação, segundo a Indústria Brasileira de Árvores (Ibá). “A soma entre as florestas preservadas e de produção estoca 3,4 bilhões de toneladas de carbono. Essa equação entre preservação e produção é um know how exclusivamente nosso”, diz a presidente da Ibá, Elizabeth Carvalhaes.

De acordo com Elizabeth, o Brasil, que possui cerca de 72 milhões de hectares de terras aráveis disponíveis, é um terreno fértil para o investimento de outros países e pode obter vantagens com monetização do gás. Neste cenário, a indústria de base florestal seria um grande player nas operações com outros países. A Ibá também acredita na oportunidade explorar a colaboração entre países da América Latina para criar uma parceria em bloco e ganhar escala e relevância no mercado de carbono. “Imagino o crédito de carbono sendo a mais importante commodities”, diz Elizabeth.

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