Ageflor – Associação Gaúcha de Empresas Florestais

Potencial do mercado da madeira ganha destaque no Workshop FIMMA Florestal

Além de espaço de exposição na Feira Internacional de Máquinas, Matérias-Primas e Acessórios para a Indústria Moveleira, a FIMMA Brasil 2019,  a Ageflor também foi apoiadora do Workshop FIMMA Florestal, ao lado do Sindimadeira-RS e o patrocínio do Centro das Indústrias Produtoras e Exportadoras de Madeira do Estado de Matogrosso (Cipem). O evento inédito ocorreu nos dias 27 e 28, tendo o Vice-Presidente da para a Cadeia Produtiva do Pinus, Daniel Chies, como um dos palestrantes.

A primeira das palestras abordou ‘A situação atual e as perspectivas futuras do setor produtivo da base florestal’, com o professor Doádi Brena. Com um extenso currículo, o gaúcho é atualmente, entre outras funções, consultor do Serviço Florestal Brasileiro para o Inventário Florestal Nacional, o que avaliza os dados apresentados durante o evento.

O território mundial abrangido por florestas, que hoje representa 30,6%, por muito tempo esteve na faixa dos 4 milhões de hectares e caiu para 3,9 milhões. No Brasil, a área florestal é de 57,9%, sendo entre 0,92% (IBA) e 1,17% (IBGE) de árvores plantadas (1,28 milhões de hectares são de áreas preservadas). A cadeia florestal representa atualmente 6,2% do PIB industrial do país, sendo responsável por 0,9% da arrecadação nacional de tributos e ocupa o 4º lugar nas exportações. O Brasil é o 3º maior produtor mundial de celulose. O Rio Grande do Sul, especificamente, produz 6,2% da celulose do país, 45% da erva mate e 100% da casca de acácia. 

Brena aponta como perspectivas nacionais desse mercado, por exemplo, a tendência de novos projetos industriais com demanda de madeira adicional de 25 a 35 milhões de metros cúbicos por ano e geração de energia extra em consumo de 40 a 60 milhões de metros cúbicos ano. “A contribuição do nosso Estado é expressiva, mas poderia ser maior. Ainda mais em um momento de dificuldades que o Rio Grande do Sul vive financeira e estruturalmente”, argumentou.

Segundo Brena, a participação seria maior se dois projetos de celulose tivessem sido implementados (a Fibria transferiu a planta que seria gaúcha para Mato Grosso do Sul, obtendo uma implementação de 7% no seu PIB), além do que contribuiria se o Programa Floresta-Indústria RS fosse posto em movimento, o licenciamento ambiental não fosse tão complexo e não houvesse um zoneamento ambiental para a silvicultura. “Somos o único Estado com zoneamento específico que fixa a porcentagem de ocupação florestal”.

Incentivo para crescimento da cadeia florestal

Na sequência, Daniel Chies e Rafael Ferreira conduziram a palestra ‘Plantios florestais no Rio Grande do Sul x aspectos legais’. Os ministrantes reforçaram em grande parte os pontos salientados por Brena. Após Chies explanar sobre aspectos de destaques sobre regras para a obtenção de licenças ambientais para as propriedades florestais, Ferreira foi enfático nos pontos que travam o Estado de ter um desempenho no setor melhor. “O Rio Grande do Sul é o único estado da federação com zoneamento específico para a atividade florestal. O investidor pensa duas vezes antes de investir aqui nesse segmento”.

De acordo com Ferreira, o setor da cadeia florestal está consumindo estoque de floresta e isso um dia terminará. “Como fica a economia madeireira dos Campos de Cima da Serra, por exemplo? Como fica o PIB de 6,4%? Sendo monocultura, temos o mesmo impacto sendo as árvores de espécies nativas ou exóticas. Por que a silvicultura tem um tratamento desigual em relação à agricultura? São questionamentos”.

Conforme Ferreira, as tendências são da substituição gradual dos pinus pelo eucalipto (algo não positivo) aumento do uso do eucalipto para usos industriais, novos investimentos em serrarias de grande porte, aumento da demanda da madeira de pinus no Polo Serra para abastecer a indústria catarinense e falta de pinus e acácia no mercado gaúcho. “Urge a criação e implementação de um Plano Estadual de Desenvolvimento Florestal em conformidade com o plano nacional”, concluiu.


A Página Rural fez uma série de entrevistas durante a Fimma Brasil. Assista:

Ageflor promove integração do setor florestal na Fimma Brasil 2019

Consultor da FAO destaca importância do setor de base florestal gaúcho

Palestrantes criticam falta de apoio ao setor de florestas plantadas no RS


Certificação FSC atesta seriedade dos produtos

Na última palestra do primeiro dia, a consultora Heloise Coutinho falou sobre ‘Certificação e utilização do selo FSC – Rastreabilidade da matéria-prima florestal’. Heloise abordou a respeito de todos os passos para o processo de certificação na cadeia de custódio florestal (COC). O documento atesta que a madeira comercializada ou a matéria-prima utilizada na produção vem de florestas bem manejadas e/ou fontes controladas. 

Recentemente alguns ajustes foram feitos nas regras, facilitando a comprovação de alguns quesitos exigidos nas auditorias que garantirão o selo FSC. Um deles foi, por exemplo, que embalagens de produtos elaboradas de insumos de base florestal não precisam mais serem certificados. Basta salientar que o produto que leva o selo está dentro da embalagem. 

Atenção a todos os passos e treinamento completo de equipes pode facilitar a certificação. “O selo é de extrema importância e fala para o consumidor final que há toda uma seriedade, preocupação e qualidade no produto”, argumentou Heloise.

O uso da madeira como matéria-prima em edificações

O segundo e último dia de palestras do estreante Espaço Florestal, no Workshop FIMMA, contou com três momentos marcantes. O primeiro deles ficou a cargo do arquiteto José Afonso Botura Portocarrero, que tratou do tema ‘A madeira e o mundo’. Conceituado em seu segmento de trabalho e premiado em 2018 com o Breeam Awards, da Building Research Establishment BRE, a mais antiga e conceituada certificadora em sustentabilidade da Europa, o matogrossense é um entusiasta no uso da madeira como matéria-prima em edificações. “Ela (a madeira) é um produto mais sustentável, um dos mais recicláveis que existe. Então, inovar com madeira dá possibilidades imensas”, argumenta.

Portocarrero acredita muito no potencial do Brasil de usar e ampliar a aplicação do material. Até porque, lembra ele, já citava casas feitas pelos índios na “certidão de nascimento” do país, na carta de Pero Vaz de Caminha. “A tecnologia das construções de madeira estava lá. A madeira é um dos nossos patrimônios e temos reservas ainda, mas precisamos ter cuidado, um manejo sustentável deve ser básico”.

Dois pontos são cruciais para Portocarrero no sentido de ampliar o uso da madeira no mercado arquitetônico: o material ser discutido dentro das universidades e a existência de projetos habitacionais de madeira, que seriam mais baratos e sustentáveis, além de permitirem montagem e desmontagem dependendo da necessidade.

Pelo mundo, Portocarrero aponta vários exemplos de edificações utilizando a madeira. Como exemplo está a Faculdade de Arquitetura de Zurique, na Suíça, em que é ministrado um dos mais conceituados cursos do segmento no mundo e que tem seu prédio produzido com madeira. Outro case é o da construção em forma de globo, existente em Genebra, também na Suíça, dentro da qual está instalado um grande projeto de acelerador de partículas. “É o que há de mais moderno e tecnológico acontecendo lá dentro e a estrutura que o público tem acesso é feito de madeira”.

Mato Grosso é case em manejo florestal

A advogada e atual secretária Estadual de Meio Ambiente do Mato Grosso, Mauren Lazzaretti, deu sequência às palestras. Ela apresentou como tema ‘Os procedimentos legais da cadeia produtiva da madeira em Mato Grosso’. Vinda do estado brasileiro que mais produz e exporta madeira, ela fez questão de salientar as estratégias matogrossenses para “deixar a Floresta Amazônica de pé”. 

Entre os dados expostos por Mauren estão o de que aquele Estado tem 60% das florestas do seu território conservadas e, em contrapartida, 31% do PIB estadual é derivado da cadeia produtiva da madeira. “Atualmente, 44 municípios (dos 141) têm como base econômica principal essa matéria-prima. No momento, temos 3,7 mil hectares de área de manejo. A ideia é dobrar esse número até 2025”, informa a secretária. Hoje são 801 empreendimentos cadastrados no CC-Sema.

Defensora do manejo florestal sustentável, Mauren acredita que o Mato Grosso é um exemplo para o País, o que, segundo ela, permitiu que o Estado fosse escolhido, pelo Banco do Brasil, como primeiro a oferecer o sistema de financiamento para manejo florestal sustentável, lançado no Dia Internacional das Florestas (21 de março).

Mato Grosso também é um destaque no Brasil no licenciamento e caminho para a legalidade do manejo florestal. A estrutura do processo engloba os seguintes passos: Cadastro Ambiental Rural, Licença Florestal (um diferencial em relação a maioria dos estados), Autorização Florestal, CC-Sema e Licença Industrial. O prazo para a conclusão dos procedimentos é outro destaque para a secretária. “O licenciamento do manejo florestal mato-grossense leva entre 89 e 100 dias”.

Mercado brasileiro de pellets

Encerrando o ciclo de palestras do dia, o gestor de negócios da TMSA, Marcelo Joaquim, explanou sobre ‘O mercado global e brasileiro de pellets’. Um universo que tem potencial de crescimento exponencial no Brasil. Principalmente por sua produção florestal e grande quantidade de resíduo de biomassa. 

Existem hoje três nichos: o de uso doméstico para geração de energia térmica; o semi-industrial, como exemplo, energia térmica em fornos e caldeiras de médio porte; e o industrial, para produção de energia elétrica.

No mundo, em 2017, foram produzidos 31,2 milhões de toneladas de pellets. Estados Unidos e Canadá são os maiores fabricantes, com geração voltada para o mercado industrial. A tendência é de que a produção seja dobrada até 2025. “O Brasil tem grande potencial de desenvolvimento. A Itália é o maior comprador do País para o consumo residencial e o Reino Unido no segmento industrial”, colocou Joaquim. 

“Para quem está pensando em entrar nesse mercado os segmentos que chamam a atenção estão o de aviários, para aquecimento na produção de frango, o de secagem de grãos, o de hotelaria, que é mais pulverizado, mas há potencial em função das caldeiras de aquecimento de água, e o pet”, argumentou o palestrante. Sobre esse último mercado, ele lembra que o Brasil é o 3º país do mundo em faturamento no setor de produtos para animais domésticos e, por isso, tem uma enorme capacidade de absorção do produto para uso no trato de gatos.

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