Ageflor – Associação Gaúcha de Empresas Florestais

Acácia-Negra pode ter mais rendimento na produção de mudas

O caderno Agronegócio dos jornais do Grupo Sinos ( Jornal NH, Jornal VS e Diário de Canoas) desta terça-feira, 25 de junho, destaca que produtores de mudas do Vale do Caí participam de testes com acácia-negra promovidos pela Secretaria Estadual da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural com o objetivo de melhorar o rendimento dessa cultura florestal presente no RS. 

Produtores de mudas do Vale do Caí participam de testes com acácia-negra promovidos pela Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (Seapdr), com o objetivo de melhorar o rendimento dessa cultura florestal presente no Rio Grande do Sul. A partir do uso de rizóbios (bactérias) em sementes inoculadas, melhorias estão previstas na germinação de mudas que apresentarão maior capacidade de fixar nitrogênio no solo. Atualmente, em torno de 90 mil hectares de florestas são cultivadas, mobilizando em torno de 40 mil famílias gaúchas.

Viveiristas como Ulysses Heldt, de Pareci Novo, são os encarregados de produzir mudas que serão cultivadas em diferentes partes do País. É na propriedade dele que brotam agora em estufas as primeiras mudas provenientes das sementes inoculadas oferecidas pelo Estado para os testes. O solo gaúcho proporciona condições propicias para o desenvolvimento desta árvore exótica, originária da Austrália, da mesma família das leguminosas, usada para produção de carvão vegetal, cavacos, pellets (biocombustíveis para geração de energia) de madeira, enquanto da casca é extraído o tanino, empregado em curtumes, na confecção de adesivos e como floculantes em estações de tratamento de água.

Ainda no Vale do Caí, em Montenegro, está localizada hoje a Tanac, empresa líder mundial na produção de extratos vegetais e cavacos elaborados com a acácia-negra. Segundo o engenheiro florestal da Tanac, Augusto Simon, hoje a Acacicultura está presente em mais de 200 municípios gaúchos. A cadeia produtiva envolve a produção de mudas nos viveiros, plantio, manutenção, colheita, descasque e transporte, além da industrialização da casca e da madeira, seja nas indústrias de tanino, nos produtores de carvão vegetal ou em milhares de estabelecimentos que utilizam a madeira para geração de energia.

PESQUISAS

Os pesquisadores do Departamento de Diagnóstico e Pesquisa Agropecuária do Estado analisam o uso de mais bactérias ligadas à raiz da planta que ajudam na fixação biológica de nitrogênio, não sendo assim necessário uso de fertilizantes. De acordo com o engenheiro florestal da Seapdr, Jackson Brilhante, em um primeiro teste em laboratório a germinação das sementes aumentou em 16% com a utilização do inoculante. “É um resultado interessante, porque o uso do inoculante tem apresentado um efeito associado muito positivo. Os rizóbios (bactérias) possuem essa capacidade de fixar nitrogênio no solo e ainda representam uma melhoria na germinação”, destaca. Uma maior uniformidade dos lotes de mudas também está prevista. Ainda são analisadas o uso de outros grupos de bactérias benéficas para o crescimento vegetal. “Estas bactérias, quando aplicadas nas estacas, têm a capacidade de aumentar o enraizamento, sem uso de hormônio vegetal. A utilização destas bactérias, além de ser uma alternativa de menor custo, também evita o uso de produtos químicos que podem ser tóxicos ao produtor”, explica Jackson. O profissional assegura que esses estudos representam mais ganho direto para o produtor e menos custo de produção. Em torno de 30 dias, uma nova avaliação referente à semeadura será feita junto aos viveiristas parceiros.

Estado tem duas grandes produtoras de tanino

De acordo com a Associação Gaúcha de Empresas Florestais (Ageflor), a Tanac e a Sociedade Extrativista de Tanino de Acácia (Seta), de Estância Velha, são as duas grandes indústrias produtoras de tanino que abastecem a totalidade do mercado brasileiro e promovem significativas exportações. A extração do tanino pela indústria obedece algumas etapas. Em um primeiro momento, toda a casca trazida pelos caminhões é picada. Em seguida acontece a extração do tanino com água quente sobre pressão e temperatura, gerando uma solução liquida. Logo depois, este líquido será concentrado em outra fase do processo. O líquido evaporado na Tanac, em Montenegro, é base para produção de diversos derivados em diferentes formas, tais como pó, líquido ou sólido; dependendo da aplicação e segmento de mercado.

De acordo com o gerente industrial da Tanac, Luciano Valcarenghi, a extração do tanino engloba água, pressão e temperatura. “A variação desses elementos muda conforme a finalidade”, disse. Entre as utilidades do tanino está o curtimento de couros, tratamento de águas, adesivos para painéis de madeira, aditivo para ração animal, antifúngico, fluidizante para cerâmica e cimento, matéria-prima para produção de espumas como isolante térmico, antioxidante para vinhos, agente reológico e fertilizantes.

Vale do Caí é berçário de mudas de acácia

Em Pareci Novo, município referência na produção de mudas diversas no Estado, o viveirista Heldt pretende vender toda produção de 6 milhões de mudas de acácia, entre julho a novembro.”Hoje, esse tipo de muda responde por 90 a 95% da minha produção. Para o experimento foram semeadas mil mudas inoculadas e outras mil normais para observar a diferença. De modo geral, as mudas de acácia-negra quando semeadas ficam de 30 a 40 dias, depois vão parao campo”, destaca. É no município do Vale do Caí que são cultivadas mudas que abastecem grande parte do mercado no Estado e até mesmo para outras partes do País.

Em média, o valor unitário da muda de acácia, com 20 a 30 cm, varia de R$ 0,20 a R$ 0,25. “A procura depende muito do valor de mercado e preço pago para a madeira. As mudas daqui são vendidas em todo Rio Grande do Sul e até para outros Estados, como Paraná e Mato Grosso”, firma o secretário de Agricultura de Pareci Novo, Fábio Schneider. De pequenos a médios plantadores, de diversas regiões, desenvolvem o cultivo da acácia. Heldt comemora a procura registrada até o momento este ano. “Varia muito de um ano para outro. Estava em baixa e agora melhorou um pouco a procura por mudas devido à melhora no preço da madeira. A região Sul do Estado é o principal destino das mudas”, acrescenta. O crescimento acontece a sol pleno e tem rápido crescimento inicial. Os espaçamentos mais comuns são de 3 metros entre as linhas de plantio e 1,5 metro entre cada muda. É recomendado a eliminação de ervas daninhas até seis meses após o plantio.

Colheita acontece quando árvore tem de 5 a 7 anos

Conforme o engenheiro florestal da Tanac, Augusto Simon, a adubação de plantio da acácia-negra prioriza a disposição de fósforo e potássio. “Como a floresta mantém boa quantidade de gramíneas no seu interior, o consórcio com gado têm sido comum. Sendo assim, não só otimizando a área da própria floresta, mas não deixando de utilizar áreas não plantadas em cada propriedade”, explica. O ciclo completo da árvore até a colheita tem sido de 5 a 7 anos. Segundo Simon, com um plantio de qualidade e em solos férteis, a colheita acontece com menos tempo, mas em geral não menos do que 5 anos. “As florestas têm produzido entre 200 e 250 metros de madeira empilhada por hectare e a produção de casca gira em torno de 15 toneladas”, acrescenta.

O engenheiro florestal reconhece que, pelo fato de incorporar nitrogênio ao solo, é comum o uso das áreas para culturas agrícolas diversas com a vantagem da melhoria obtida ao longo dos anos com o uso da floresta. O principal inimigo para o insucesso do plantio da acácia é a presença de formigas cortadeiras. “A aplicação de iscas formicidas em condições de clima e época favoráveis é muito importante para um bom controle”, opina. O Estado conta inclusive com legislação específica que obriga o proprietário das florestas a catar e queimar galhos eventualmente cortados pelo cascudo serrador, uma praga dispersa nas regiões de cultivo. Simon afirma que o preço de mercado da casca, atualmente, está na média de R$ 290,00 a tonelada. Enquanto a madeira oscila na faixa de R$ 60,00 o metro cúbico empilhado.

Relação com o Vale do Sinos

A chegada da acácia no Rio Grande do Sul aconteceu em 1918, através de Alexandre Bleckmann, então diretor da Companhia Geral de Indústrias, com sede em São Leopoldo. O plantio de aproximadamente 700 árvores nas terras da empresa foi feito com o objetivo de testar o uso da lenha como energia na empresa. De acordo com a Ageflor, as maiores florestas plantadas com acácia estão localizadas na metade Sul do Estado, nas regiões da Depressão Central, Serra do Sudoeste e Escudo Sul-rio-grandense. O município de Encruzilhada do Sul lidera em termos de área plantada, sendo responsável por 22,5% do total cultivado no Rio Grande do Sul. A orientação dos órgãos para o plantio é procurar um responsável técnico, diante a necessidade de licenciamento ambiental que varia de critérios conforme o tamanho da área a ser plantada.

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