Por Rafael Barisauskas para o site AgroRevenda
Detentor de um território continental, o Brasil apoia-se no agronegócio como um de seus pilares para geração de riqueza, sendo o setor florestal uma importante parcela deste segmento. Dentro de sua vasta extensão territorial e biodiversidade única, o setor florestal possui grande relevância não só econômica, mas também social e ambiental no país. Ao longo das duas últimas décadas, o setor tem investido fortemente em inovação tecnológica e se beneficiado desses avanços, contribuindo para o desenvolvimento sustentável do agronegócio brasileiro. Em 2022, o produto interno bruto (PIB) – medida que em teoria representa a geração de riqueza de um país em um dado período – cresceu 2,9% para R$ 9,9 trilhões, sendo que o setor agrícola recuou 1,7% no mesmo período. Já o setor florestal apresentou crescimento, com o PIB setorial atingindo um novo recorde de R$ 107,2 bilhões no mesmo ano, representando 4,1% do volume da produção agropecuária total do país no período.
A eucaliptocultura no Brasil
O setor florestal brasileiro possui várias áreas que geram riqueza, como o segmento de florestas plantadas e a fabricação de produtos florestais, muitos deles destinados à exportação. Além disso, o setor investe pesadamente em tecnologia para melhorar sua eficiência e reduzir os custos de produção, o que coloca o Brasil na vanguarda das curvas globais de custo desse setor. As florestas plantadas são a única fonte legalmente disponível de madeira para a fabricação de produtos florestais no Brasil. Além disso, elas também têm sido utilizadas como uma ferramenta de preservação ambiental e, mais recentemente, para a geração de créditos de carbono. Essa tendência se intensificou após os recentes esforços na regulação do mercado nacional. Em 2022, a área plantada de árvores no país atingiu 9,94 milhões de hectares, principalmente com cultivos de eucalipto (7,6 milhões de hectares) e pinus (1,9 milhões de hectares), quase o dobro dos 5,1 milhões de hectares plantados em 2013, há menos de dez anos.
A primeira variedade é uma das favoritas do setor florestal devido ao seu rápido ciclo de crescimento e maturação, que varia entre cinco e oito anos, desde o plantio ao corte. Isso é consequência de melhorias genéticas e investimento em pesquisa e desenvolvimento de cultivares altamente adaptados ao clima e solo das diferentes regiões onde são plantados no Brasil. A rápida possibilidade de rentabilização da safra permite ao setor produtor de celulose e produtos de papel e derivados obter vantagens competitivas significativas em relação a outros produtores globais, que não possuem as mesmas condições favoráveis de clima e espécies de rápido crescimento. A título de comparação, países nórdicos na Europa, grandes produtores de celulose e produtos de papel, possuem cultivares que levam, em média, de dez a quinze anos para se desenvolver.
O eucalipto é uma das variedades mais queridas pelo setor florestal brasileiro, e apesar de sua supremacia nas florestas plantadas, ele não é nativo do Brasil. Os primeiros relatos de sua introdução datam do início do período imperial, e sua difusão ao longo do território brasileiro ocorreu nos anos subsequentes. De fato, o primeiro registro de cultivo comercial de eucalipto no Brasil data de 1868, no Rio Grande do Sul. Os primeiros estudos científicos do varietal tiveram início apenas no começo do século XX, mas o aumento significativo das florestas plantadas no país só ocorreu após 1966 com a promulgação da Lei de Incentivos Fiscais ao Reflorestamento e com os planos econômicos de desenvolvimento que apoiaram a economia na década seguinte. A partir de então, a eucaliptocultura tem se apresentado como uma importante fonte de renda para agricultores de todos os portes. Não por acaso, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) também empenhou esforços desde a sua criação na década de 70 para criar sementes geneticamente adaptadas aos diferentes tipos de clima e solo no país, além de capacitar agricultores no cultivo da planta e apoiar a sua disseminação através das cadeias de valor no agronegócio.
Importância socioeconômica
A demanda por madeira do setor florestal visa atender diferentes indústrias, desde o setor de celulose e papel até a produção de carvão, tábuas e madeira para móveis. De alta relevância nacional, o setor florestal tem crescido a um ritmo impressionante no último ano e deve continuar na mesma tendência ao longo da próxima década, impulsionado pela maior demanda global por produtos de papel e, inclusive, geração de créditos de carbono. Como já citado, o PIB do setor florestal atingiu um novo recorde de R$ 107,2 bilhões em 2022, praticamente o dobro dos R$ 56,3 bilhões registrados em 2012, uma década antes. A maior parte do valor gerado pelo setor está no segmento de celulose e papel, que representa mais da metade do PIB setorial, seguido pelo setor produtor de móveis e fabricantes de painéis de madeira, madeira processada e, por fim, o siderúrgico e de carvão.
As florestas plantadas também contribuem para a geração de empregos e, consequentemente, para a distribuição de renda nas regiões onde são instaladas. Diversas empresas produtoras de celulose e de culturas plantadas possuem laboratórios de desenvolvimento genético no meio rural, o que proporciona a fixação de trabalhadores altamente qualificados nesse ambiente e garante remunerações vantajosas para esses profissionais. Apesar do uso de alta tecnologia, a seleção de mudas e clones de alto desempenho ainda é realizada de forma manual, exigindo a expertise de seres humanos e, assim, garantindo o emprego de muitas pessoas no ambiente rural. A produção de mudas de eucalipto pode ser feita através de sementes plantadas e desenvolvidas a partir de árvores-mãe, desenvolvidas em viveiros, ou através de clones por estaquia, ou seja, através de clonagem.
Além disso, ao manter profissionais bem remunerados no meio rural, impulsiona-se a distribuição de renda regionalmente por meio do multiplicador monetário, garantindo benefícios diretos e indiretos para negócios e comércios nesse meio. Já as florestas naturais (ou não plantadas com objetivo comercial) são fundamentais para as comunidades locais espalhadas por todo o território brasileiro, que dependem dos recursos florestais para sua sobrevivência. A coleta de frutas, castanhas e outros produtos alimentícios provê fonte de renda e alimentação para milhares de famílias.
Inovação tecnológica no setor florestal
Nos últimos anos, a inovação tecnológica tem exercido um papel crucial na evolução do desempenho do setor florestal no Brasil, com uma série de avanços que revolucionaram as práticas de produção, manejo e monitoramento. Com isso, empresas têm se especializado em atividades específicas da cadeia – como a produção de mudas ou o manejo florestal, por exemplo –, a fim de maximizar suas operações. O avanço da velocidade na transmissão de dados e o maior volume de dados gerados a cada etapa produtiva, consequências do aprimoramento tecnológico que praticamente todas as indústrias globais observaram nos últimos vinte anos, permitiram a expansão da produtividade do setor florestal. Algumas das principais inovações que o setor introduziu na última década incluem o uso de drones e sensoriamento remoto, sistemas de informação geográfica, técnicas de biotecnologia e melhoramento genético e até mesmo o uso de big data e sistemas de inteligência artificial.
A utilização de drones equipados com câmeras de alta resolução e sensores infravermelhos tem possibilitado o monitoramento detalhado das florestas, permitindo a detecção precoce de pragas, incêndios, doenças e até mesmo o combate ao desmatamento ilegal das florestas. Os sistemas de informação geográfica têm sido amplamente utilizados para o planejamento e gestão das áreas florestais, facilitando a análise espacial e a tomada de decisões baseadas em dados geoespaciais em conjunto com outros dados coletados. Eles enfatizam a importância do uso de big data e até mesmo de modelagem e sistemas de inteligência artificial para o processamento desse volume de informação. A implementação de tecnologias digitais e sistemas automatizados tem melhorado de forma geral os processos produtivos, reduzindo custos, aumentando a eficiência e minimizando o impacto ambiental das atividades florestais.
A aplicação de técnicas de biotecnologia, como citado anteriormente, também tem apoiado o desenvolvimento de espécies florestais mais resistentes e produtivas, adaptadas às condições climáticas e ambientais brasileiras. O setor florestal no Brasil destaca-se ao investir em inovação que combina alta tecnologia com práticas sustentáveis. Uma das principais estratégias setoriais é garantir a otimização do consumo de energia e a minimização do impacto ambiental das operações florestais. Para isso, empresas do setor costumam adotar um cronograma rigoroso de manutenções preventivas em suas máquinas e equipamentos, bem como monitoramento constante das florestas. Somente a título de exemplo, em 2022, empresas do setor reduziram o consumo de combustível em mais de 435 mil litros na colheita, economia de 0,10 litro por metro cúbico de madeira.
O setor florestal brasileiro enfrenta desafios significativos, mas também apresenta um enorme potencial para inovação e crescimento sustentável. Ao longo das últimas duas décadas, os avanços tecnológicos têm desempenhado um papel fundamental na promoção da sustentabilidade, eficiência e competitividade deste setor. Investir em pesquisa, desenvolvimento e adoção de tecnologias inovadoras é essencial para garantir a continuidade e o crescimento sustentável do setor florestal brasileiro, assegurando a conservação dos recursos naturais e o bem-estar das gerações presentes e futuras. Portanto, é fundamental que o governo, o setor privado e a sociedade civil trabalhem em conjunto para promover a inovação tecnológica e o desenvolvimento sustentável do setor florestal, garantindo um futuro mais próspero e sustentável para o Brasil.
Não à toa, empresas do setor vêm se destacando ao conseguirem a aprovação de financiamentos milionários para projetos florestais. Somente para citar os dois exemplos mais recentes: a Suzano, a maior produtora de celulose de mercado do mundo, conseguiu financiamento total de R$ 3,6 bilhões junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), ao passo que um projeto de reflorestamento da Veracel, na Bahia, logrou R$ 200 milhões do BNDES.
* Rafael Barisauskas é professor de Economia na Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP).