Ageflor – Associação Gaúcha de Empresas Florestais

Árvores para frear as mudanças climáticas

O dilúvio que convulsionou o Rio Grande do Sul no mês de maio aguçou as preocupações urbanas e rurais em relação a estratégias para a mitigação das mudanças climáticas. Uma das mais eficientes ferramentas para sequestrar gases de efeito estufa (GEEs) como o gás carbônico é acessível a todos e brota da natureza. Mas são empresas florestais que têm liderado o plantio de árvores em escala industrial, que ocupam o solo de maneira racional e usam os recursos naturais de forma sustentável. No Brasil, companhias florestais plantam 1,8 milhão de mudas de espécies florestais por dia e conservam 6,7 milhões de hectares de mata nativa. Em escala menor, o Estado gaúcho segue essa cartilha e tem planos de crescimento com ganhos econômicos, sociais e ambientais.

“A árvore é um ser vivo fotossintetizante fundamental dentro do ciclo de carbono, e as árvores de crescimento rápido são mais eficientes ainda na manutenção dos gases que contribuem para o efeito estufa”, defende o vice-presidente adjunto da Associação Gaúcha de Empresas Florestais (Ageflor), Lucas Pasetto. O Estado conta atualmente com 927 mil hectares de plantações de eucaliptos, pinus e acácia-negra, gerando 67 mil empregos e sendo responsável por 38% das áreas preservadas no território gaúcho. “A média de aproveitamento das propriedades para silvicultura dificilmente ultrapassa os 50% de ocupação”, pontua.

Segundo Pasetto, os benefícios à fauna e à flora são reais, pelo isolamento do contato humano, baixa aplicação de fertilizantes, ausência de agrotóxicos e manutenção da mata ciliar e dos recursos hídricos. O segmento é uma das 35 cadeias produtivas diversificadas e sustentáveis do Estado, que persegue o modelo de agropecuária de baixo carbono com eficiência, aumento de produção e ganhos ao produtor rural.

“Dentro das práticas agronômicas e veterinárias a serem seguidas, a mais importante do ponto de vista de captação de carbono, com capacidade de mitigar, sequestrar e até armazenar carbono no solo é a atividade da silvicultura, através das florestas plantadas”, sustenta o coordenador da Comissão de Meio Ambiente da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Domingos Velho Lopes.

Pasetto destaca a amplitude de produtos sustentáveis oriundos de árvores e que aumentar a base florestal é garantir suprimento das necessidades humanas e de geração de empregos e renda. O representante da Ageflor lembra que o segmento respeita Áreas de Preservação Permanente (APPs) e conserva áreas de mata nativa, sob fiscalização do poder público. Ele acredita que a silvicultura é exemplo para reflexão sobre o uso de recursos naturais.

“A manutenção das matas ciliares é algo que o Estado precisa se preocupar urgentemente. O solo nu nas APPs de beira de rios pode ter sido um dos vilões da última enchente”, afirma.

A silvicultura comercial também tem compromisso com os biomas, por oferecer recursos sem necessidade de desmatamento e consumo irregular de espécies nativas. “Quando olhar ao seu redor, em qualquer lugar que você estiver, vai encontrar muitos produtos que usaram recursos madeireiros na sua produção, seja na construção da sua própria casa e nos seus móveis, seja no papel e nas embalagens, na fabricação do metal ou das tintas, entre outros tantos”, ressalta.

No Rio Grande do Sul e no Brasil, os cultivos florestais são profissionalizados e de precisão, assim como na agricultura. Segundo a Ageflor, o conhecimento técnico é abrangente e disponível, permitindo escolher corretamente a espécie e o manejo e respeitar as leis ambientais. A expansão da silvicultura andou devagar nas últimas duas décadas em razão de regramentos ambientais específicos do Estado. Nos anos 2000, a expectativa de novas fábricas de celulose geraram discussões que terminaram com a criação do Zoneamento Ambiental da Silvicultura (ZAS), único no país.

O ZAS deveria ser revisado a cada cinco anos, mas começou somente em 2018, no Conselho Estadual do Meio Ambiente (Consema). Atualmente, um grupo de trabalho debate temas como as distâncias entre maciços e os parâmetros de conectividade e permeabilidade, mas ainda não há resultados.

“O ZAS equivocadamente expeliu muitos investimentos no passado, e o momento agora é de reestruturação. Precisamos atrair novas empresas para que tenhamos um mercado fortalecido e diversificado, onde haja concorrência saudável pelo produto florestal e lucro para o produtor”, defende o vice-presidente da Ageflor.

Um dos investimentos previstos para os próximos anos é da chilena CMPC, que anunciou intenção de investir 4,6 bilhões de dólares em uma nova indústria de celulose em Barra do Ribeiro, com capacidade para 2,5 milhões de toneladas anuais. O projeto Natureza CMPC prevê 12 mil empregos durante a obra e 1,5 mil postos na operação da indústria, que dependerá da ampliação da base florestal de eucaliptos e fomento a produtores rurais em 80 municípios. A estimativa de mercado é de que serão necessários de 80 mil a 120 mil hectares de novas árvores cultivadas, incrementando o sumidouro de gases de efeito estufa no Estado.

“A silvicultura é um setor produtivo que está se consolidando cada vez mais como uma das prioridades do Estado. Um caso que materializa essa intenção é o investimento bilionário da CMPC no RS, projeto que vem sendo construído de forma conjunta com o Estado. Esse movimento empreendedor vai refletir em toda a cadeia florestal por se tratar também de uma agenda ambiental, que é uma das diretrizes do governo”, enfatiza o secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Ernani Polo.

Para Polo, a atividade florestal é uma das mais contribuem para o uso dos recursos naturais com base nos preceitos sustentáveis, já que promove benefícios nas condições hidrológicas, na conservação do solo devido à baixa intervenção e longo prazo de estabelecimento da cultura, além de fixação de CO2 na madeira, renovando a qualidade do ar.

O secretário diz que a cadeia produtiva do segmento perpassa processos agrícolas, logísticos e industriais, entre outros, e fornece insumos para áreas como a biotecnologia, biocombustíveis, medicina, alimentação, embalagens, bioquímicos, nutrição animal e humana, cosméticos e outros segmentos. “Essa agregação de valor desencadeia geração de empregos com salários mais atrativos, distribuição de renda e desenvolvimento sustentável. Por tudo isso e pelo RS ter uma das melhores condições geoclimáticas do mundo para a silvicultura, é que o setor florestal se destaca e tem fundamental importância para impulsionar o desenvolvimento socioeconômico do nosso Estado”, destacou.

O novo ciclo também deve reforçar a sinergia com comunidades e as redes de prestação de serviços e suprimentos que serão criadas no entorno, tendo como preceito principal o cuidado com recursos naturais, seu principal insumo.

“A sustentabilidade será sempre prioridade numa empresa florestal. Ela precisa se perpetuar e continuar produzindo sem esgotar o solo, a água, a economia”, analisa Pesatto.

Para o consumidor de produtos de base florestal, a certificação garante monitoramento e auditorias em toda a cadeia. A Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), associação nacional do segmento, diz que o setor se certificou de forma voluntária há mais de 20 anos, tendo rastreabilidade da cadeia.

Para Pasetto, o consumo crescente de madeira e papel impele para o uso de recursos renováveis e recicláveis em detrimento de plásticos e produtos à base de petróleo. “Não é magnífico que tenhamos as árvores plantadas com suas folhas limpando o planeta e ao mesmo tempo nos oferecendo soluções para o nosso dia a dia? Precisamos cada vez mais optar por recursos e produtos que vêm da floresta plantada”, finaliza.

O setor no Rio Grande do Sul
926.959 hectares de áreas plantadas
66.889 empregos gerados
Valor da produção: R$ 3,78 bilhões (2022)
Fonte: Associação Gaúcha de Empresas Florestais (Ageflor)

Conservação ambiental
Dos 652 mil hectares em Áreas de Preservação Permanente (APPs) e de vegetação nativa no Rio Grande do Sul, as empresas do setor são responsáveis por 395 mil hectares (38%), o equivalente a 8 vezes o território de Porto Alegre.
Fonte: Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luis Roessler (Fepam)

Tanac triplica captura de CO2 em dois anos
Companhia aumentou em 21 vezes o sequestro de CO2 da atmosfera

Maior produtora mundial integrada de produtos florestais à base de acácia-negra, a Tanac triplicou o volume de gás carbônico capturado em relação às emissões de todas suas operações. O mais recente Inventário de Emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) mostrou que a companhia removeu 21 vezes mais gás carbônico da atmosfera, ampliando os resultados do período anterior, quando capturava 7 toneladas de CO2 equivalente para cada tonelada emitida.

Conforme o diretor presidente da Tanac, João Soares, os resultados foram verificados por uma auditoria internacional e são inerentes às atividades florestais.

“O nosso compromisso é de um lado reduzir emissões, com agenda ESG (governança ambiental, social e corporativa) forte neste sentido, e nos plantios ter trabalho grande de recuperação de áreas degradadas e preservação”, diz Soares, citando ações para melhorar Áreas de Preservação Permanente (APPs) e manter corredores ecológicos. “Faz parte de nossa natureza”, resume.

O dirigente ressalta que os resultados do monitoramento de GEE florescem a cada ano, citando que estudo de 2021 apontava o sequestro de 6 toneladas de CO2 equivalente para cada um emitido, passando para 7 toneladas em 2022 e 21 toneladas no ano passado.

O incremento no sequestro de CO2 é explicado pelo amadurecimento da base florestal e aumento do plantio de acácia-negra em áreas próprias da Tanac e de produtores integrados como Anderson Nied, morador da localidade de Linha Cumprida, no município de Salvador do Sul. “Eu praticamente nasci dentro do ramo. Meu pai (Cláudio) e meu tio (Osmar, falecido) começaram o plantio no fim dos anos 70 e no começo dos anos 80 passaram a trabalhar com a Tanac”, conta Anderson. Atualmente, as atividades são feitas por ele, a esposa, Rosane, o filho Wiliam e o irmão, Eduardo, e esposa, Graziele. A propriedade tem 26 hectares, com 15 de acácia e o restante diversificado com grãos e vacas leiteiras.

Da produção florestal, Anderson entrega as cascas de acácia para a Tanac e aproveita a madeira para produzir cerca de oito toneladas de carvão vegetal mensais, que vende para mercados da região. “Também tenho um caminhão, recolho a casca de terceiros e levo para a Tanac”, conta. A continuidade das operações florestais tem suporte da empresa, que fornece mudas e orientação técnica. “É uma firma muito auxiliadora. Além de contribuir com a natureza, a acácia é a nossa principal fonte de renda”, diz.

A acácia alimenta os negócios da Tanac e exportações para mais de 60 países. A empresa utiliza a casca para produzir tanino, usado no curtimento e recurtimento de couro, tratamento de águas e efluentes, aditivos para nutrição animal, nutrição vegetal até látex hipoalergênico. Da madeira, a companhia produz cavacos, exportados para a Europa e Ásia para produção de papel e celulose.

A Tanac distribui sua base florestal em cerca de 55 mil hectares e conta com outros 38 mil hectares de produtores integrados, que, assim como a família Nierd, estão com a empresa por várias gerações. Em geral, a ocupação com efetivo plantio chega a 40% das áreas. “A gente prega a perpetuidade e temos a agenda ESG na veia. Somos um setor que gera emprego e trata bem a natureza”, reforça Soares. Com 76 anos de atividades, a companhia inaugurou um viveiro de mudas em 2023, ampliando a capacidade de produção de 4 milhões para 8 milhões de mudas. Em 2024, pretende produzir 9 milhões de mudas para atender a uma escala de 2 mil mudas por hectare.

“Nosso objetivo é atingir 7 mil hectares de plantio nos próximos dois a três anos, com investimento anual de R$ 100 milhões somente em silvicultura. Isso é mais emprego, formação de equipes e desenvolvimento das cidades”, destaca. Com mais árvores para colher, o trabalho exige treinamento de pessoas e investimentos pesados como um moderno harvester – máquina que custa R$ 4 milhões e tem capacidade de cortar, derrubar, desgalhar, descascar e empilhar toras.

Eucaliptos abastecem estufas de fumo e geram renda na agricultura familiar
Muito antes de o mundo falar em mudanças climáticas, produtores de tabaco gaúchos implantaram matas de árvores de rápido crescimento para ter autossuficiência energética e preservar matas nativas. A Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra) criou seu Departamento Agroflorestal há quase 40 anos, para orientar sobre regularidade ambiental legal e incentivar a produção florestal, que entra na propriedade como insumo para a cura do tabaco e também para diversificar a produção.

O fumicultor Renato Drost é um dos exemplos dessa estratégia. Em uma propriedade típica da agricultura familiar em Linha Boa Esperança, no município de Vale do Sol, ele tem 26 hectares de terra, cultivando 80 mil pés de tabaco e 20 mil de eucalipto. A madeira abastece estufas de secagem do fumo e também é vendida ao mercado para secar o fumo. “Estamos produzindo tabaco aqui nesta terra há 32 anos. A plantação de fumo começou com meus avós. Na época em que assumi já era proibido tirar lenha do mato”, conta Drost.

O produtor também vende ao mercado excedentes em lenha e toras. Sua propriedade ainda tem plantações de grãos, hortigranjeiros, frutas e alguns animais. No princípio, a produção florestal foi feita por conta própria. “Depois, entraram variedades novas da Afubra de eucaliptos clonados, que crescem mais rápido. Em oito anos produzem lenha e em 15 anos, toras”, explica Drost.

O engenheiro florestal Juarez Iensen Pedroso Filho, gerente de Produção Agroflorestal da Afubra, diz que a formação de florestas plantadas em propriedades de associados foi uma das grandes iniciativas do Departamento Agroflorestal. “O pontapé inicial foi a difusão de conhecimento de tecnologias adequadas e direcionadas à pequena produção florestal”, comenta. Além de treinar agricultores, a Afubra instalou em Rio Pardo, na localidade de Rincão del Rey, o primeiro viveiro com produção de mudas de espécies nativas e exóticas da região. A produção anual é de 1,57 milhão de mudas florestais, tendo produzido 45 milhões de mudas ao longo de sua existência.

Drost já domina as técnicas da eucaliptocultura, que exige pequena adubação na fase inicial e roçadas para manter a área limpa. Nas enchentes de maio, a propriedade de Drost ficou isolada por cerca de um mês. A violência das águas abriu valetas e causou avarias na lavoura e nas hortas. “No eucalipto não deu prejuízo, porque a árvore ajuda a infiltrar a água no solo”, conta.

CMPC avança em reação às mudanças climáticas
Multinacional estabelecida no Rio Grande do Sul tem buscado desacelerar o aquecimento global e aponta que seus maciços florestais neutralizam o equivalente a cinco vezes as emissões do transporte terrestre de Porto Alegre

A multinacional chilena CMPC é responsável pelo maior investimento privado já feito no Rio Grande do Sul e busca desacelerar o aquecimento global com metas ambiciosas. A captura de carbono por meio do processo de fotossíntese nas árvores dos maciços florestais da empresa neutraliza o equivalente a cinco vezes o transporte terrestre de Porto Alegre, conforme dados do inventário de emissões do município. A empresa soma plantações em 75 municípios gaúchos e mais de 200 mil hectares de área preservada.

Até 2025, a empresa pretende reduzir em 25% o uso de água em processos industriais e se tornar uma organização zero resíduo. Também tem como objetivo diminuir pela metade as emissões de gases causadores de efeito estufa e, até 2030, aumentar em 100 mil hectares as áreas de conservação ambiental. Os alvos estão dentro da Estratégia de Natureza, Conservação e Biodiversidade, uma ação entre empresas que insere a proteção ambiental como um dos pilares para aprofundar iniciativas de restauração da vegetação nativa nas áreas de conservação da companhia.

No Estado, o projeto BioCMPC implementou melhorias ambientais na fábrica de Guaíba e reduziu em 60% as emissões atmosféricas. Na logística, em 2023 a companhia transportou 2,5 milhões de toneladas por barcaças pela Lagoa dos Patos, evitando 100 mil viagens de caminhão e eliminando a emissão de aproximadamente 56 mil toneladas de carbono no ar.

Outras ações
Carbono negativo – Em 2022, as operações florestais e industriais da CMPC totalizaram 1,08 bilhão de toneladas de CO2 e lançadas na atmosfera. Os hortos retiraram do ar três vezes mais CO2 do que o montante produzido nas operações florestais e industriais. No final de 2022, o estoque de carbono de áreas de conservação atingiu a marca de 53,19 milhões de toneladas de CO2e.
Energia limpa – Desde 2019, a implementação de um sistema de gestão de energia adotou a estratégia do uso de biomassa para produzir energia elétrica. A indústria Guaíba tem duas caldeiras de recuperação, nas quais o licor negro (material excedente do processo de cozimento da celulose) é queimado para gerar energia, levando a empresa a um índice de 84% de autossuficiência, comercializando o excedente. A geração de energia é suficiente para abastecer um município de 50 mil habitantes durante um ano.
Água e efluentes – A CMPC foi pioneira entre indústrias de celulose ao colocar em prática um sistema de tratamento de efluentes que torna a unidade uma das poucas no mundo com essa estrutura. A empresa capta água do Guaíba para o processo de produção de celulose. Depois de utilizado e tratado em três fases, o recurso hídrico volta ao lago com índices de pureza maiores do que quando foi captado. A companhia está reformulando o sistema de higienização de tubetes em que são plantadas as mudas de eucalipto, redirecionando a água da chuva para atividades de limpeza. O viveiro conta com estação de tratamento que cria um circuito fechado de utilização da água. Nas plantações florestais, desde 2020 a CMPC vem reduzindo em 10 vezes o uso de água aplicando herbicidas por meio de drones.


Plano ABC: sistemas resilientes, mais produtivos e baratos
Ampliação de florestas está entre as metas do Plano de Agricultura de Baixo Carbono do Rio Grande do Sul (ABC+RS) como forma de aumentar a eficiência das atividades nas propriedades rurais

O plantio de espécies arbóreas está no centro da estratégia do Plano de Agricultura de Baixo Carbono do Rio Grande do Sul (ABC+ RS), que segue diretrizes da iniciativa nacional para promover práticas agrícolas sustentáveis. O objetivo é ter maior eficiência no campo, elevando a produção com menores custos ao produtor e impactos ambientais.

“A presença da árvore, associada com os campos e pastagens exóticas, compõem sistemas que propiciam maior resiliência, porque em períodos secos o componente florestal gera bem-estar animal, minimizando os efeitos das secas, em na ocorrência de chuvas de alta intensidade as árvores propiciam maior infiltração de água no solo”, explica o coordenador do Comitê Gestor do ABC+ RS e pesquisador da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi), Jackson Brilhante.

A adoção de tecnologias sustentáveis como sistemas silvipastoril, na qual animais, pastagens e árvores são manejados na mesma área, tem sido incentivado e trazido benefícios aos pecuaristas com rebanhos de corte e de leite. Brilhante relata que já são vários casos pelo Estado em que o sistema tem trazido maior estabilidade da produção leiteira e redução de custos. “Temos casos de produtores que reduziram de 40% a 50% o custo de produção ao passar do sistema à base de silagem para um sistema silvipastoril”, afirma. “Isso do ponto de vista econômico e de aumento de resiliência às mudanças climáticas é muito importante,” reforça.

O Plano BC+ RS tem feito ações em conjunto com a Emater/RS-Ascar, em eventos como webinars e seminários e a criação de unidades de referência tecnológica, pelas quais produtores que adotam adequadamente as tecnologias sirvam de exemplo para outros ficarem convencidos a adotarem esses sistemas em suas propriedades. “O produtor só vai conseguir adotar tecnologia enxergando que outro produtor está se beneficiando”, diz Brilhante.

Para o titular da Seapi, Clair Kuhn, os eventos climáticos extremos que sacudiram o Estado são também uma imposição para a melhoria dos sistemas produtivos. “As pessoas estão mais suscetíveis a aplicar técnicas novas e melhorar as que existem”, afirmou, em webinar recente sobre o Plano ABC. Kuhn acredita que é importante medir os ganhos de eficiência produtiva e de valor à propriedade rural. “Temos um povo acostumado a usar novas tecnologias e levá-las para o restante do Brasil”, destaca.

Para o coordenador do Plano ABC+ Nacional, Rodrigo Dantas, que integra o Departamento de Produção Sustentável do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), as tecnologias são aceitas no campo por trazerem produtividade e responderem a questões da sustentabilidade da agropecuária brasileira. Com a adoção de sistemas, práticas conservacionistas do solo, técnicas de manejo de culturas e animais, em arranjos que permitem melhor desempenho na produção. O Plano ABC+ destaca oito tecnologias (veja quadro). “São tecnologias consolidadas há mais de 40 anos, que estão sendo utilizadas a campo e têm a aceitação por demonstrarem que, efetivamente, aumentam a produtividade e a renda do produtor”, ressalta

Dantas entende que o produtor rural já “está muito mais dentro deste jogo do que muitas vezes pensa”, executando estratégias em suas rotinas diárias. O coordenador acredita que o Plano ABC deve despertar os produtores rurais de diferentes cadeias para os ganhos dentro e fora da porteira. “Isso vai tornar nosso agro mais sustentável”, aposta.

As oito práticas sustentáveis
Recuperação de pastagens degradadas (Meta: 30 milhões de hectares)

Sistema de Plantio Direto (Meta: 12,5 milhões de hectares)

Sistemas de integração (lavoura-pecuária-floresta e agroflorestais (Meta: 10,1 milhões de hectares)

Florestas plantadas (Meta: 4 milhões de hectares)

Sistemas irrigados (Meta: 3 milhões de hectares)

Bioinsumos (Meta: 13 milhões de hectares)

Tratamento de dejetos animais (Meta: 208,4 milhões de metros cúbicos)

Abates em terminação intensiva (Meta: 5 milhões de cabeças de gado)

Fonte: Ministério da Agricultura e Pecuária

O ciclo da água nas florestas plantadas
Conceitos que ajudam a elucidar os benefícios e o balanço hídrico positivo de florestas plantadas:

Chuva – A precipitação atinge folhas, galhos e troncos e escorrendo de forma suave para o solo, evitando o escoamento rápido e o transporte de material orgânico do solo para o leito dos rios. Assim, a silvicultura ajuda a evitar a sedimentação das bacias hidrográficas.

Evapotranspiração – Em clima quente e seco, a temperatura na sombra da floresta é mais constante e/ou controlada, evitando o calor na superfície do solo e fixando a umidade para as raízes.
Corredores ecológicos – A ocupação do solo em projetos florestais raramente ultrapassa 50% de cada propriedade, preservando o restante da vegetação nativa.


Bioeconomia e descarbonização
O setor florestal oferece mais de 5 mil bioprodutos de origem renovável, biodegradáveis e recicláveis, substituindo materiais de origem fóssil.
No Brasil, as empresas do setor plantam, colhem e replantam 9,94 milhões de hectares de árvores. São 1,8 milhão de árvores plantadas por dia, com expansão especialmente em áreas degradadas de baixa produtividade agrícola.
O setor conserva 6,7 milhões de hectares de mata nativa – equivalente a 134 vezes o território de Porto Alegre.
Mais de 80% da energia usada nas fábricas de papel e celulose é autogerada de forma sustentável com a queima da lignina, macromolécula que dá sustentação às plantas.
O setor florestal brasileiro prevê investimentos de R$ 67 bilhões até 2028, parte deles em pesquisa e desenvolvimento, inovação e melhoria dos processos industriais e florestais.

Fonte: Correio do Povo

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