Ageflor – Associação Gaúcha de Empresas Florestais

Artigo: Silvicultura no Brasil e seus desafios

Por Roberto Bonse –Head | Divisão de Gerenciamento & Negócio da STCP

O Projeto de Lei (PL) 1366/2023 que estava tramitando no Congresso Nacional, e que havia sido aprovado pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) da Câmara dos Deputados, teve um avanço significativo e positivo para o setor. A Lei Federal 14.876/24 foi promulgada pela presidência da República no último dia 31 de maio de 2024. Como resultado, a silvicultura deixa de fazer parte da lista de atividades consideradas potencialmente poluidoras e utilizadoras de recursos ambientais. A silvicultura fazia parte de um elenco de 20 atividades como extração mineral, indústrias metalúrgicas e químicas. Dessa forma, o setor florestal fica desobrigado do licenciamento ambiental para a atividade de silvicultura e isento da taxa de controle e fiscalização ambiental.

Essa iniciativa é de extrema relevância para impulsionar ainda mais um setor como o florestal, que tem um papel de destaque na economia nacional. A STCP já promoveu ações de contribuição similar nas esferas federal, estadual e municipal, a exemplo dos Programas de Desenvolvimento Florestal do Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Tocantins, Acre e Pernambuco (na Chapada do Araripe). Destravar certos entraves que limitam o desenvolvimento sempre foram, e continuam sendo, uma preocupação da empresa.

O Brasil está na vanguarda quando se trata de tecnologia aplicada à silvicultura. A silvicultura brasileira tem reconhecimento internacional, sendo o país um benchmarking global quando se trata desse assunto. E é sempre bom destacar que a indústria de base florestal no Brasil desempenha um papel significativo na economia, com múltiplos impactos em termos de PIB, exportações e empregos. Segundo o relatório anual de 2023 da Indústria Brasileira de Árvores – Ibá, a receita gerada pelo setor foi de R$ 260 bilhões em 2022, contribuindo com 1,3% do PIB brasileiro. Em termos de arrecadação de tributos federais e estaduais, o setor gerou cerca de R$ 25 bilhões. Para a balança comercial, o setor contribuiu com mais de US$ 14 bilhões em exportações. No que diz respeito às questões sociais, o setor gerou 2,6 milhões de empregos diretos e indiretos.

Além dos aspectos econômicos, a indústria de base florestal também se destaca por sua base sustentável. Atualmente, a área total de árvores plantadas no Brasil se aproxima de 10 milhões de hectares, com uma área adicional de vegetação conservada próxima de 7 milhões de hectares.

Em resumo, a indústria de base florestal desempenha um papel crucial na economia brasileira, combinando produção econômica com conservação ambiental e benefícios sociais.

Voltando ao tema central, a silvicultura desempenha um papel essencial no reflorestamento do Brasil, contribuindo significativamente para a garantia do suprimento de madeira na indústria de base florestal. Tem por objetivo acompanhar o crescimento, desenvolvimento e melhoramento das florestas, garantindo uma produção precisa e adequada de produtos e serviços, além de mitigar impactos ao ecossistema. Benefícios adicionais incluem a proteção do solo e recursos hídricos, captura de carbono, entre outros.

Quando se fala de silvicultura, é quase automático se pensar em reflorestamentos de espécies como o eucalipto e pinus, já bem consagrados no Brasil. Entretanto, ainda é pouco discutido ou divulgada a importância do papel da silvicultura para recuperação de áreas degradadas, reposição florestal com fins ambientais, entre outras ações.

O setor energético tem demandado muitas ações relacionadas à silvicultura de espécies nativas para fins de compensações ambientais, derivadas da implantação de diferentes empreendimentos desse setor. Obviamente, tais compensações ambientais são obrigações previstas na legislação e que o empreendedor deve observar.

A restauração ecológica de áreas degradadas é fundamental para a conservação dos ambientes impactados. As práticas silviculturais que têm sido frequentemente aplicadas em áreas degradadas têm sido a condução da regeneração natural, plantios por sementes e plantios por mudas. Entretanto, a diversidade de situações locais encontradas usualmente requer abordagens modernas e criativas para o manejo sustentável das florestas. Essas práticas visam aumentar a resiliência e adaptabilidade das florestas. Não existe regra simplista na maioria dos casos, haja vista a diversidade de biomas existentes no Brasil.

Trabalhos de execução de reposição florestal, recuperação de áreas degradadas e restauração ambiental têm sido realizados pela STCP em diversas regiões do Brasil para os setores energético e mineração, principalmente. E de fato, as experiências que têm sido vivenciadas pela empresa, nos mais diferentes biomas, só reforçam a necessidade constante em se adotar práticas inovadoras, criativas e adaptadas às condições locais. Cada situação é um desafio novo, que exige muito pragmatismo nas ações que precisam ser efetivamente realizadas.

Nesse sentido, o manejo adaptativo desempenha um papel crucial nas práticas silviculturais. Trata-se de uma abordagem flexível e dinâmica que visa aprender com a prática e ajustar continuamente as estratégias de manejo com base nas condições ambientais e nos resultados observados. O manejo adaptativo incentiva a experimentação com diferentes técnicas e abordagens, sendo que os resultados desses experimentos possibilitam uma melhor tomada de decisões futuramente.

Em que pese as práticas silviculturais já serem consagradas, a restauração de áreas degradadas com espécies nativas enfrenta diversos desafios. Os principais desafios e gargalos estão relacionadas à coleta de sementes de diversas espécies e posterior tratamento para a produção de mudas adequadas. A sazonalidade e efetiva disponibilidade de material genético, com espécies adequadas para diferentes locais, são fatores que conferem uma grande complexidade ao processo, uma vez que é de extrema importância escolher plantas nativas que se adaptem às condições do solo e do clima. Outros desafios enfrentados podem ser destacados, tais como a competição com espécies invasoras, a falta de recursos humanos qualificados, solos com alta degradação e baixa fertilidade, necessidade de estrutura dedicada para monitoramento e manutenção contínua de áreas em fase de recuperação, pressões antrópicas e, por último, o fator tempo, pois a restauração é um processo gradual que requer tempo e paciência. Resultados imediatos são raros.

Como a IA pode ser aplicada

As inovações tecnológicas no setor florestal têm sido aliadas no enfrentamento de desafios que se impõe constantemente. Sistemas de gestão dos mais diversos, drones para mapeamento de áreas, detecção de pragas e doenças, monitoramento florestal, aplicação de herbicidas, entre outros; Inteligência Artificial (IA) para análise de dados para tomada de decisões mais robustas, softwares de inteligência computacional e maquinário integrado, enfim, uma série de tecnologias que vem auxiliando sobremaneira as mais diversas operações florestais, incluindo a silvicultura. Essas tecnologias vêm propiciando a otimização de processos e, consequentemente, resultando em maior produção.

Soluções tecnológicas inovadoras exigem, entretanto, uma boa dose de pioneirismo e resiliência para enfrentar riscos ainda desconhecidos. Ao longo da história da STCP, a empresa tem buscado sempre soluções novas, visando a otimização de processos e redução de custos para ganhar competitividade.

Algo que vem revolucionando os mais diversos setores da economia é a Inteligência Artificial (IA). Alguns especialistas no tema têm se arriscado a afirmar que o advento da IA se equipara à descoberta da energia elétrica.

A Inteligência Artificial (IA) já vem desempenhando um papel revolucionário na silvicultura de várias maneiras, podendo destacar algumas: (i) Monitoramento em tempo real: a IA permite o monitoramento contínuo das operações florestais, onde sensores coletam informações remotamente sobre os cultivos, fornecendo dados precisos e em tempo real. Isso melhora a qualidade e produtividade das atividades silviculturais; (ii) Otimização de recursos: a IA otimiza o uso de insumos, reduzindo desperdícios e promovendo a eficiência na gestão de recursos, uma vez que contribui para a decisão de quando e como intervir nas florestas; (iii) Tomada de decisão automatizada: controladores baseados em IA analisam dados e tomam decisões em tempo real, permitindo que sistemas possam executar intervenções, como manejo de pragas e irrigação, de forma automatizada; (iv) Previsões e modelos: a IA contribui para acelerar as interpretações dos fenômenos naturais e, mais importante, nas tomadas de decisão. Ela pode ser usada para prever crescimento florestal, riscos de incêndio, saúde das árvores, entre outros.

Mas, apesar do universo de soluções que a IA pode gerar, a sua implementação enfrenta diversos desafios, que incluem: limitação de infraestrutura de comunicação de dados; necessidade de adaptação da IA para lidar com variações complexas, dinâmicas e imprevisíveis; dependência de grandes massas de dados de alta qualidade; capacidade para analisar e interpretar dados complexos, a exemplo de padrões de crescimento das árvores. No Brasil já existem iniciativas importantes de pesquisa e desenvolvimento em silvicultura de espécies nativas, como por exemplo, o Programa de Pesquisa e Desenvolvimento em Silvicultura de Espécies Nativas, o qual tem sido apoiado pela Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura.

Pontuo uma reflexão final sobre todos os aspectos ora tratados: a silvicultura no Brasil tem um papel de extrema relevância sob o prisma econômico, ambiental e social. Seja a silvicultura de espécies para produção de madeira ou com fins de conservação de áreas naturais, as oportunidades de desenvolvimento são muitas. Os desafios existem, sempre existirão, mas estão aí para serem enfrentados. Questões relacionadas ao bom planejamento e tecnologias inovadoras são chave para que o setor florestal brasileiro ganhe, cada vez mais, relevância no cenário global e protagonize o desenvolvimento sustentável.

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