Ageflor – Associação Gaúcha de Empresas Florestais

Carlos Aguiar conta sua trajetória no setor de celulose e papel em livro

O livro Minha História no Papel, de Carlos Aguiar, lançado pela editora Outras Letras, é um testemunho pessoal e histórico sobre a trajetória de um dos grandes nomes do setor de celulose e papel no Brasil. Aguiar, que teve um papel essencial na fundação da Ibá e atuou como presidente do Conselho Deliberativo, além de ocupar cargos de liderança na Aracruz e Fibria, compartilha em sua obra memórias que abrangem não apenas sua carreira, mas também a transformação do setor de árvores cultivadas no país.

Nascido em 1945, Aguiar descreve um período de intensas mudanças mundiais e brasileiras, incluindo o impacto de ditadores e líderes visionários. A grande virada na carreira de Aguiar ocorreu há 40 anos, quando ingressou na Aracruz, empresa na qual foi essencial para expandir a produção de celulose em larga escala e com qualidade internacional.

Formou-se em engenharia, até que, em 1981, ingressou na Aracruz Celulose como trainee e, em pouco mais de 15 anos, ocupou o posto de liderança da empresa, ajudando-a a transformá-la em uma gigante global, capaz de produzir e fornecer milhões de toneladas de celulose da mais alta qualidade, com faturamento de 2,5 bilhões de dólares e 15 mil funcionários. Foi CEO da Aracruz de 1998 a 2009 e, da Fibria, de 2009 a 2011. Também foi peça fundamental na construção do setor brasileiro de árvores cultivadas como potência de bioeconomia. Hoje, aposentado, é conselheiro de empresas no Brasil e no exterior.

 “Carlos Aguiar foi um dos grandes executivos do setor de árvores cultivadas para fins industriais. Esse livro já nasce como referência e é de muita utilidade, principalmente, para os mais jovens que estão buscando formação. Como líder empresarial, teve papel relevante na reconstrução do Espírito Santo”, diz Paulo Hartung, ex-governador do Espírito Santo e presidente do Instituto Brasileiro da Árvore – IBA.

Confira a resenha sobre o livro por Evandro Milet para a coluna Inovação do site ES360:

Meu papel na história

No mundo empresarial costumamos associar o termo empreendedor aos empresários, os donos das empresas, que dedicam a vida ao seu negócio. É muito bom ler a história de um ultra empreendedor que dedicou a vida como executivo a um negócio que não era seu, mas onde ele agia como se fosse, com a todas as circunstâncias econômicas, políticas, sociais e tecnológicas que esse negócio gera. No livro “Minha história no papel”, sua autobiografia, Carlos Aguiar, ex-CEO da Aracruz Celulose e Fibria, atual Suzano, conta toda a sua experiência, que vai além da empresa, e envolve a história do Espírito Santo pelo menos nos últimos 30 anos.

De uma família sem muitas posses, no interior do Ceará, mas com valores sólidos, partiu para a formação em engenharia química, ajudada pelo bico em banda de música no piano que pratica até hoje e com um exemplo que valoriza os dois lados do cérebro: a China forma mais engenheiros que todos os países ocidentais juntos, e treina mais de 50 milhões de crianças por ano na formação musical clássica.

O emprego e a ascensão gerencial até CEO na Aracruz Celulose, a ênfase em conhecimento e inovação na carreira, as inúmeras conexões internacionais moldaram o executivo que rodava o mundo sempre mantendo a base em Coqueiral, onde resolveu ficar na aposentadoria, planejada com antecedência para se dedicar à família muito retratada no livro.

Da convivência com Erling Lorentzen, o empresário norueguês criador da empresa, um transformador social nas palavras do cientista social João Gualberto, veio o exemplo de capitalismo inclusivo, de confiar nas pessoas e nas equipes, tratar bem os clientes, fornecedores e competidores e de seguir um ícone da sustentabilidade.

Há em todo o livro a preocupação de passar os conceitos que aprendeu, como os de gestão: aprender muito e rápido, desenvolver o pensamento crítico, comunicar com eficiência, usar dados e fatos para decidir, saber negociar e administrar conflitos, tirar o medo da organização e o papel fundamental da inovação. Acredita que as pessoas certas são o ativo mais importante das empresas, daí a preocupação de sempre se cercar de pessoas que pensam grande e que saibam mais que ele.

Mostrou que liberdade e confiança aumentam a criatividade e é preciso acabar com a história de que “quem não fosse trator, seria estrada”, como muitos ainda praticam e a importância de fazer os empregados terem orgulho de trabalhar na empresa. O conceito de ESG foi uma prática antes da sigla existir, no cuidado com as pessoas e o meio ambiente.

Sempre antenado com o futuro, mostrou que commodities podem inovar como a bio estratégia baseada na árvore, que a Suzano está levando adiante para produtos baseados em nanotecnologia inclusive na indústria têxtil com menor consumo de água e energia, principalmente em comparação ao algodão. Literalmente roupas vão dar em árvore.

As novidades se deram na indústria e no setor de base florestal. Nos primeiros desenvolvimentos foi importante e surpreendente ceder tecnologia até para os concorrentes. Os clientes não gostariam de ficar na mão de um único fornecedor de uma celulose ainda desconhecida no mercado. Inovações em clonagem ajudaram também o desenvolvimento da cafeicultura. Hoje o setor de base florestal emprega mais de 3,75 milhões de pessoas no Brasil, a melhor fonte de florestas plantadas no mundo.

As inovações não aconteceram só na tecnologia. A Suzano tem o melhor sistema de logística de celulose do mundo, criado na Aracruz. A operação da Fábrica C operando inicialmente com madeira oriunda da Veracel, exigiu a implantação de um terminal de barcaças em Caravelas na Bahia e um terminal no Portocel dando início ao transporte marítimo de madeira por barcaças, iniciativa pioneira que reduziu a circulação de caminhões na BR 101 e reativou estaleiros do RJ contribuindo com a indústria naval. Nesse projeto, pioneiramente, componentes pré-fabricados foram trazidos já montados e os pré-moldados da construção civil aceleraram os processos, como se discute hoje frente à carência de trabalhadores. Fornecedores locais foram chamados a participar, mesmo com certo temor das grandes empresas de engenharia pela inexperiência. Nessa onda cresceram grandes fornecedores locais: Imetame, Estel, Fortes Engenharia e Meta, que se espalharam pelas grandes obras do país.

O apoio ao Prodfor-Programa de desenvolvimento de fornecedores foi fundamental para criar uma grande rede de fornecimento para as indústrias de base como parte da preocupação em aumentar a inserção da Aracruz no ES, tanto empresarial quanto política. Nesse aspecto foi decisiva a participação na recuperação moral e econômica do estado na criação da ONG Espírito Santo em Ação, onde participa até hoje, inclusive na formação dos Líderes do Amanhã.

Se hoje a Suzano é a maior empresa de celulose do planeta e o Espírito Santo é um estado em consistente crescimento e exemplo no país, muito se deve ao trabalho de Carlos Aguiar comandando uma grande equipe e inspirado por Erving Lorentzen. Um grande papel nessa história.

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